AUDIODESCRIÇÃO EM CONTEXTOS CULTURAIS - QUESTÕES TÉCNICAS, ESTÉTICAS E TRADUTÓRIAS
Resumo
A audiodescrição é uma técnica que traduz em palavras elementos visuais. A técnica objetiva, através da descrição de imagens, o acesso de pessoas cegas ou com baixa visão a produtos educativos e culturais que se apresentam em grande parte com constructos visuais, como os filmes no cinema e na TV, as peças de teatro, os espetáculos de dança e os vídeos da internet. Não se trata de uma descrição qualquer, sem regras, aleatória, mas sim de uma descrição regrada, adequada a construir entendimento onde antes não existia ou era impreciso. A audiodescrição encontra-se no escopo dos estudos da tradução audiovisual e trata-se do tipo de tradução intersemiótica ao transformar imagens em palavras. As diretrizes para a elaboração do roteiro da audiodescrição são de suma importância, afinal não se trata de qualquer tipo de descrição. O tradutor deverá priorizar as informações que levem os usuários a apreciar a obra, levando em conta o gênero e a estética a que pertence. É interessante pensar, como Diaz-Cintas (2007), na figura desse profissional tradutor que precisa englobar diversas habilidades e que é chamado pelo autor de "acessibilitador", uma vez que a demanda atual desta nova atividade social e profissional por esse especialista no terreno da acessibilidade está cada vez mais crescente. Pensando, então, nas especificidades dessa tarefa e desse profissional, esta mesa propõe abordar a audiodescrição em diferentes perspectivas. Uma delas é a audiodescrição de quadrinhos. Com um sistema próprio de organização de seus signos, contendo sequencialidade, linguagem e estética próprias e, segundo Paiva (2013) "uma junção de várias expressões artísticas que forma uma que se diferencia das demais", essa arte é essencialmente visual e, supostamente, inacessível às pessoas que não enxergam. Assim, pretende-se apresentar a análise de uma história em quadrinhos e propor sua audiodescrição. Também serão feitas considerações sobre a audiodescrição para cinema, propondo-se a audiodescrição de algumas cenas de filmes e discutindo-se a adaptação da linguagem da audiodescrição à estética de cada um. Como afirmam Alves e Teixeira (2015), questões relativas à construção da imagem, som, iluminação, pontos-de-vista, enquadramento e planos, precisam ser obervados pelo audiodescritor. Assim, será também objetivo esclarecer e justificar as escolhas feitas na audiodescrição. Por último, serão tecidas considerações sobre a tradução de roteiros de audiodescrição, sua viabilidade e importância no contexto atual, tendo-se como base a tradução do roteiro da série Orange is the new black, do inglês para o português. Leva-se em conta que, para se obter um resultado coerente para o público-alvo local, os roteiros traduzidos devem contemplar as questões técnicas, linguísticas e culturais, considerando a importância da formação profissional do audiodescritor, a fim de que ele seja instrumentalizado para tomar as decisões mais acertadas durante o processo de tradução do roteiro e sua adaptação para a audiodescrição de chegada, considerando os parâmetros elaborados por meio de pesquisas e testes de recepção para a cultura-alvo. Anna Jankowska (2015), defende a ideia de que a tradução dos roteiros de audiodescrição reduz as etapas de trabalho em comparação com a elaboração de um original e certifica a qualidade das audiodescrições de obras audiovisuais de origem estrangeira, bem como corrobora com a ideia de que as traduções devem ser feitas por audiodescritores profissionais, conhecedores das questões pertinentes à audiodescrição e à tradução. As audiodescrições propostas pelos participantes desta mesa seguem os parâmetros contidos no Guia para Produções Audiovisuais Acessíveis (2016), da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e a proposta tradutória baseia-se nas ideias de Haroldo de Campos de que tradução é também recriação do texto, quando restitui sua estrutura em outro idioma ou linguagem. “Numa tradução dessa natureza [transcriação], não se traduz apenas o significado, traduz-se o próprio signo, sua fisicalidade, sua materialidade mesma” (CAMPOS, 2010). Dessa forma, ao traduzir a letra e a informação estética, ou seja, a maneira como os signos estão organizados na construção da obra, o tradutor cria uma nova informação estética, mas ambas – original e tradução – estarão ligadas entre si por uma relação de paramorfismo. Ressalta-se que as pesquisas aqui apresentadas foram desenvolvidas na Universidade de Brasília, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução.Downloads
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Publicado
2017-09-27
Edição
Seção
Mesas Redondas