LEGENDAGEM DE FILMES E SÉRIES MULTILÍNGUES
Resumo
Indo ao encontro da temática do evento, a mesa apresenta propostas de legendagem que podem ser consideradas revolucionárias na prática e nas teorias da tradução e que se apresentam particularmente atrativas para a tradução de filmes e séries multilíngues. Todo texto audiovisual já apresenta por si só, pelo seu caráter multimodal, um alto grau de complexidade que exige do tradutor um olhar semiótico aguçado para entender a relação da mensagem verbal com os demais sistemas de significação envolvidos. Se, além desse fator, há presentes no texto interações multilíngues que constituem fenômenos diversos como alternância de código, mistura de código, variação intralingual na forma de socioletos, dialetos, idioletos, variantes regionais, arcaísmos ou, simplesmente silêncios (MEYLAERTS e ŞERBAN, 2014, p. 7), os desafios se multiplicam e a tradução desse tipo de textos pode evidenciar as tensões internas não só entre culturas de distintos países, mas também entre grupos de uma mesma nação. Partindo de uma noção de língua flexível que reconhece, além da taxonomia oficial das línguas, todos seus subtipos e variedades, inclusive a interferência linguística das populações imigrantes (DELABASTITA e GRUTMAN, 2005, p. 14), podemos classificar como texto multilíngue todo aquele onde coexistam instâncias de variação linguística suficientemente significativas para sinalizar que há ali retratada ou representada mais de uma comunidade discursiva identificável (CORRIUS e ZABALBEASCOA, 2011, p. 115). As línguas representadas podem refletir uma realidade multilíngue do contexto em questão ou um universo fictício, mas também podem ter outras funções narrativas, muitas vezes transmitindo, inclusive, uma imagem negativa e estereotipada daquela comunidade discursiva. As legendas são adicionadas ao filme como um meio de tradução diassemiótica (GOTTLIEB, 1998, p. 220), pois vertem informações do canal verbal oral para o canal verbal escrito, apresentando um canal de comunicação adicional com relação ao filme original, o que requer que o tradutor, além de observar as restrições formais próprias da tarefa legendadora, também se preocupe com a coerência intersemiótica (DÍAZ CINTAS e REMAEL, 2007, p. 171) e se esforce em criar um todo linguístico-visual coerente. Não são raros os filmes e séries multilíngues que resultam em uma tradução monolíngue – que apaga totalmente a diversidade linguística. Também é frequente que se produza a perda de marcas da oralidade no filme traduzido, especialmente os traços dialetais. As legendas tradicionais, elaboradas de acordo com a norma padrão da língua e caracterizadas pela correção linguística e clareza discursiva, não parecem ser as mais apropriadas para traduzir esse tipo de textos. Portanto, propostas como a da legendagem ativista e da legendagem criativa serão exploradas nesta mesa-redonda. No caso da legendagem criativa, os aspectos técnicos que antes engessavam e restringiam as legendas dão lugar a um novo formato que desafia os padrões institucionalizados mundialmente. As legendas criativas conversam com a imagem e o áudio do material audiovisual. Elas já são comuns nas legendas intralinguais e nas legendas para surdos e ensurdecidos (LSE). A utilização de fontes com cores diferentes nas legendas interlinguais é uma técnica comum no Japão e em alguns países europeus. A adoção dessa técnica como estratégia para destacar a alternância de línguas abre um leque de possibilidades para a tradução de legendas em filmes e séries multilíngues. Por outro lado, o termo tradução ativista traz a ideia da tradução como ferramenta de transformação social e de disseminação de informação de resistência (BAKER, 2016). Para que isso aconteça propriamente, pensa-se um novo modus operandi para o processo de legendagem de uma obra; um no qual o tradutor seja incluído desde a concepção inicial do projeto e que a tradução seja pensada da mesma forma como a direção de arte e de fotografia, por exemplo, sabendo que, assim como esses elementos, a narrativa e mensagem de um filme dependem também da tradução (EL TARZI, 2016).Downloads
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Publicado
2017-09-27
Edição
Seção
Mesas Redondas