A IMPORTÂNCIA DA EXPERTISE POR INTERAÇÃO COMO SUBSÍDIO ÀS REFLEXÕES PARA A FORMAÇÃO DE TRADUTORES
Resumo
A tradução, na condição de uma atividade de leitura e escrita, corresponde a uma complexa tarefa de resolução de problemas mal definidos (SHREVE, 2006). Da Silva (2007), com base em Scardamalia e Bereiter (1991), sugere que a expertise em tradução consiste em um processo dialético em que o sujeito é capaz tanto de deduzir a partir de seu conhecimento de domínio e de seu conhecimento discursivo para resolver um caso particular, quanto de inferir a partir de um caso particular para reformular seu conhecimento de domínio e discursivo. No caso da tradução de textos técnico-científicos, esse processo dialético é ainda mais complexo porque o tradutor raramente detém os conhecimentos específicos de determinada área do conhecimento e partilha da linguagem da comunidade discursiva dessa área (BHATIA, 2004). Não obstante, Collins e Evans (2010) afirmam que é possível adquirir a expertise na linguagem de um domínio sem, contudo, contribuir diretamente para esse domínio. A esse tipo de expertise os autores denominam de expertise por interação. Em se tratando da área médica, entende-se que os profissionais da saúde e pesquisadores da área podem vir a desenvolver expertise contributiva porque são capazes de atuar diretamente na área, dando sequência a pesquisas, cirurgias e outros procedimentos e conhecimentos próprios do domínio médico. Em contrapartida, os tradutores podem desenvolver uma capacidade linguística que lhes permita transitar com certa facilidade entre os membros da área, não apenas dominando o seu linguajar e seus jargões, mas também compreendendo o universo dos integrantes dessa área a ponto de se integrarem a essa comunidade discursiva e interagir com seus membros com excelência. Nesse contexto, o presente trabalho apresenta uma reflexão inicial sobre o papel da expertise por interação como componente necessário da competência do tradutor de textos técnicos e científicos na área de medicina. Mais especificamente, com base no modelo de expertise, preconizado por Collins e Evans (2007), e na noção de escrita mediante transformação do conhecimento, trazida por Scardamalia e Bereiter (1991), propõe-se que a interação entre tradutor e especialista em atividades de prática deliberada (ERICSSON; CHARNESS, 1997) fomenta processos tradutórios que levam à produção de textos de chegada adequados às expectativas das comunidades discursivas a que se destinam. Exemplos são apresentados para evidenciar que a expertise por interação é necessária para o sucesso da prática tradutória e para a elaboração de tarefas de prática deliberada voltadas à formação e à especialização de tradutores. Discutem-se aqui traduções produzidas por egressas de um curso de tradução que tiveram, ao longo de um ano e meio, sessões de interação com pesquisadores da medicina. Relata-se como que, com o contato com o tipo de texto acadêmico-científico e com a área de especialidade médica, as tradutoras adquiriram mais desenvoltura com a escrita do texto acadêmico em inglês e em português, sendo capazes de interagir com a comunidade discursiva da área médica de forma mais natural e produzindo textos mais adequados ao esperado por essa comunidade. Ainda, a partir das reflexões das tradutoras sobre sua prática tradutória, desenvolvendo metarreflexão (ALVES, 2003), mostra-se como é possível trabalhar em mudanças para aumentar a produtividade e diminuir desgastes físicos e mentais no processo tradutório. Os resultados parciais do projeto, com melhorias identificadas no âmbito profissional, revelam a importância da expertise por interação para o tradutor que trabalha em uma área de especialidade.Downloads
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Publicado
2017-09-27
Edição
Seção
Comunicações Longas Eixo Formação de Tradutores e Tradutoras