WILHELMINA OU GUILHERMINA? SOBRE REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS EM SONETOS DE AUGUSTO DOS ANJOS NA TRADUÇÃO DO PORTUGUÊS PARA O ALEMÃO
Resumo
É certo que em tempos de teorias pós-estruturalistas e pós-colonialistas, o debate em torno de questões a respeito da representação nas artes em geral, anda solto e animado. Michel Foucault no livro As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas (1999), dá prosseguimento à discussão arqueológica sobre o conceito de representação nas diversas epistemes. Ele o faz historiando e problematizando o “representar” (não em um projeto histórico de percurso linear), sobretudo, no sentido filosófico e filológico, desde a Antiguidade até a Modernidade. Mais explicitamente centrado em questões sobre a complexidade do ato de traduzir, Jacques Derrida no ensaio Torres de Babel (2002), em semelhante percurso ao de Foucault, remonta ao cerne da questão sobre o mito da origem de Babel, indagando em qual língua teria sido construída e desconstruída a torre: Nome próprio de quê? E de quem? (p.20) Ao discutir a origem dos nomes próprios a partir de Babel e suas (im)possíveis traduções, a certa altura, afirma que Peter não seria uma tradução de Pierre assim como Londres também não seria uma tradução de London (p.22-23). Fundamentado nessa crença, Derrida afirma que se existe uma relação entre texto original e sua versão, esta não poderia se estabelecer nem como “imagem” (representativa) nem como “cópia” (reprodutiva), refutando deste modo, qualquer ideia de existência de um texto fundador ou essencial (p.35). Em seu artigo Tradução: A questão da equivalência (2000), Cristina Carneiro Rodrigues, toma como ponto de partida o mito de Babel na perspectiva de Jacques Derrida para refletir suas implicações sobre a noção de equivalência diante de modelos defendidos por teóricos da tradução como Jakobson (1959), Nida (1964) e Catford (1965), por exemplo. Diante do exposto e refletindo pelo viés da representação no processo tradutório de textos poéticos, este trabalho impõe as seguintes questões: Seria então Wilhelmina uma tradução de Guilhermina no soneto “Ricordanza della mia Gioventú” de Augusto dos Anjos? Estendendo e ampliando a questão da representação para além dos nomes próprios e considerando a noção de equivalência inscrita em uma tradição, seria Tamarinde uma tradução de tamarindo no soneto “Debaixo do Tamarindo”? Ou ainda Illusion de “Ilusão”, no soneto de mesmo título? Ao evocarmos Nietzsche em ensaio de 1873, Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral, refletindo sobre linguagem e representação temos que se houvesse uma certeza unívoca e universal em relação às palavras, não existiriam tantas línguas no mundo. Neste sentido, Nietzsche defende que quando falamos algo estamos lidando com metáforas das coisas e não com a origem em si das coisas em si. Um ano antes, José de Alencar a seu modo, já demonstrava semelhante preocupação e na apresentação do seu livro Sonhos d'Ouro (1872) impunha a seguinte questão: “O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?” (p.27-28) Este trabalho busca pois, dentro deste debate e, a partir de teorias dos Estudos da Tradução Literária, se ocupar em refletir escolhas de representação feitas pela tradutora Helga Reeck em parceria com a revisora Marli Woll-Tienes, não em termos de sucessos/acertos ou fracassos/erros praticados, mas na busca de discutir soluções para problemas impostos pela atividade tradutória no campo da poesia. O cotejo se dará em sonetos de Augusto dos Anjos na publicação Augusto dos Anjos: Monólogo de uma sombra – Monolog eines Schattens (AZEVEDO, 1998), edição bilíngue, Coleção Literatura, Volume 1, lançado pelo Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA), em Berlim, com o apoio da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba.Downloads
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Publicado
2017-09-27
Edição
Seção
Comunicações Longas Eixo Tradução e Análise Textual