MARKHEIM: ANÁLISE DA REESCRITA D0 DUPLO NAS TRADUÇÕES MARKHEIM (2012) E UM MIDRASH DE NATAL (2010)

Autores

  • Jamile Silva Rocha
  • Juliana Cristina Salvadori

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo compreender como ocorre o processo de reescrita do duplo nas traduções do conto “Markheim”, escrito por Robert Louis Stevenson e publicado originalmente em 1885 na The Broken Shaft: Tales of Mid-Ocean as part of Unwin's Christmas Annual. As traduções aqui analisadas são Markheim de Flávio Moreira da Costa, presente na antologia Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal (2003); e Um Midrash de Natal, publicada por Silvio Lucas (2010) em seu blog Pedaços. Para a análise dessas reescritas, primeiramente discutimos os conceitos base utilizados deste trabalho: reescrita (LEFEVERE, 2007) e o duplo (BRIAN DEMARS, 2010; MENON, 2009). Para Lefevere (2007), a reescrita é um meio no qual se desenvolve a manipulação, já que as mesmas são influenciadas por ideologias e/ou produzidas a partir de uma ideologia com a qual o reescritor possui, ou não, identificação. O autor aponta que os tradutores – reescritores – traem o texto muitas vezes sem mesmo perceber, já que os tradutores agem dentro de um subsistema, o literário, e este último, assim como o tradutor, está inserido em um sistema mais amplo, a cultura. Essa cultura, por sua vez, é o ambiente no qual a obra literária é formada. Portanto, uma tradução, como forma de reescrita, pode transmitir através das obras traduzidas as ideologias e concepções de sua(s) cultura(s) para os chamados leitores não-profissionais e, por fim, manipulá-los, uma vez que estes estão em contato com tais obras somente através das reescrituras. Sendo assim, para Lefevere (2007) é necessário questionar quem reescreve e sob quais circunstâncias tal obra está sendo reescrita. O segundo conceito utilizado neste estudo diz respeito à figuração do duplo no conto e em suas traduções. De acordo com Brian DeMars (2010), o efeito do duplo busca causar no leitor sentimento de desconforto e inquietação para realizar uma crítica a diferentes aspectos da sociedade – ou literários. Estas características, segundo Menon (2009), podem ocorrer dentro e fora de uma única personagem – como no conto supramencionado – dividindo-a e/ou estendendo-a a outra em uma forma de antagonismo, trabalhando, assim, a complexidade do estado psicológico de uma determinada personagem, e não somente as ações dentro de uma narrativa. Para o entendimento de como tais processos – tanto de reescrita, quanto do papel do duplo na construção da personagem e do enredo – decorrem no conto Markeim e em suas traduções, destacamos e cotejamos quatro momentos no quais há a manifestação do duplo: o primeiro momento se dá na chegada da personagem Markheim à loja; o segundo ocorre na discussão da personagem supramencionada com o antiquário; já o terceiro, desenrola-se a partir do assassinato cometido pelo Markheim; e, por fim, o quarto momento, que se desdobra através da reflexão do mesmo a respeito da dualidade presente em si. Através destas passagens, salientamos de que modo as traduções estudadas – Markheim (2003) e Um Midrash de Natal (2009) - explicitam e/ou implicitam o duplo presente no conto fonte, modulando-as de acordo com projetos de tradução distintos, e construindo diferentes e possíveis modos de interpretações para os leitores. Dessa forma, percebemos como o processo de reescrita pode manipular a interpretação dos leitores a partir das escolhas de cada tradutor.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Longas Eixo Tradução e Análise Textual