TRADUZIR É REPRESENTAR: INTERSEÇÕES ENTRE O NÓS E OS OUTROS A PARTIR DOS RELATOS DE CHUNGUI: VIOLENCIA Y TRAZOS DE MEMORIA (2009), DE EDILBERTO JIMÉNEZ

Autores

  • Kellen Hawena Pereira Sousa

Resumo

Partindo da obra Chungui: Violencia y trazos de memoria (2009), de Edilberto Jiménez, será realizada uma seleção de relatos, entre os 93 presentes no corpus, nos quais será possível indicar as estratégias de representações de um “nós” e dos “outros” que protagonizaram o Conflito Armado Interno do Peru, doravante CAI. E de que forma essas estratégias contribuem para um distanciamento entre os peruanos. Entendo o “nós” como os sobreviventes do CAI, ocorrido entre os anos de 1980 e 2000, que narraram suas vivências para o antropólogo e retablista Edilberto Jiménez Quispe, quando este fez parte da Comissão da Verdade, entre os anos de 2001 e 2003; e em trabalho de campo, foi até as comunidades do interior do Peru coletando relatos sobre essa guerra civil, na qual peruanos estiveram contra peruanos. E entendo os “outros” como as representações que os chunguinos fazem do Estado, do Partido Comunista Peruano – Sendero Luminoso e das Forças Armadas que atuaram no Conflito, os quais, por muitas vezes são representados pelos moradores de Chungui, como exteriores à suas vidas e cotidianidade; ainda que, haja as interseções entre ambos, o que acaba ganhando valor negativo durante os relatos. Essas interseções se dão a partir da violência de uma guerra civil, em que os direitos se perderam, e fez-se valer um estado de exceção, em que a morte se torna banal e passível de acontecer a qualquer um. Nesta proposta de comunicação, pretenderei analisar as representações que se dão entre os relatos literários e visuais presentes no livro e como a tradução é um ato político de representação, na qual, os chunguinos puderam ter um espaço de enunciação e contar suas versões sobre o Conflito Armado. E o Edilberto Jiménez Quispe, como um intelectual orgânico e tradutor fez-se mais próximo ao “nós”, quando pôde ocupar o lugar de mediador e fazer repercutir as vivências do povo de Chungui a partir da tradução intersemiótica que realiza dos relatos recopilados, transformando-os em relatos visuais, e fazendo com que estes cheguem até outros pesquisadores, a partir da versão em espanhol. Dessa maneira, a partir do olhar dos chunguinos, pretendo tratar dos locais ocupados pelas mulheres, pelas crianças, idosos, homens, integrantes do Partido Comunista Peruano, integrantes das Forças Armadas, o próprio Estado peruano, os moradores de Chungui, os moradores de outras localidades, suas comunidades, e todos os demais envolvidos no contexto do Conflito Armado Interno do Peru, refletindo acerca da seguinte questão: os “outros”, nas interseções violentas de uma guerra interna, e no pós-Conflito, conseguem apenas ocupar um local de distanciamento de um “nós”? Para tanto, utilizarei, ademais do recorte da obra do Edilberto Jiménez, estudos de tradução realizados pelos teóricos Lawrence Venutti (2002), Alberto Manguel (2001), e Edwin Gentzler (2009); estudos sobre o Conflito Armado Interno do Peru a partir de Carlos Iván Degregori (2009), Abílio Vergara (2009), José Carlos Agüero (2015), Gonzalo Portocarrero (2012); os Estudos Culturais e sobre representação a partir de Stuart Hall (2013), Gilles Deleuze e Félix Guattari (2014), Judith Butler (2015); e também os estudos do trauma realizados por Márcio Seligmann-Silva (2012).

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Longas Eixo Tradução Intersemiótica