FORMAÇÃO EM AUDIODESCRIÇÃO: UMA PERSPECTIVA INCLUSIVA PARA A QUALIFICAÇÃO DE ROTEIRISTAS E CONSULTORES

Autores

  • Manoela Cristina Correia Carvalho da Silva

Resumo

A audiodescrição (AD) é uma modalidade de tradução intersemiótica que converte informações visuais em texto verbal, ou seja, imagens em palavras. Ela é geralmente usada para tornar acessível o conteúdo imagético de materiais audiovisuais (filmes de cinema, programas de TV, peças de teatro, espetáculos de dança, apresentações circenses, etc.), bem como imagens estáticas (pinturas, esculturas, quadrinhos, charges, mapas, gráficos, etc.). O público primário da AD é composto por pessoas com deficiência visual. Entretanto, pesquisas também têm apontado a utilidade do recurso para pessoas com outras necessidades específicas, como autistas e pessoas com deficiência intelectual, e até mesmo videntes. Nesse último caso, seu uso parece enriquecer o vocabulário de crianças pequenas quando associada à contação de histórias, funcionar como uma alternativa quando alguma eventualidade venha a impedir que se possa dirigir o olhar à tela onde um filme ou programa de TV esteja sendo exibido, auxiliar estrangeiros aprendendo uma nova língua, ou dar suporte extra para idosos. Como a AD é, em geral, utilizada como um recurso de tecnologia assistiva, o princípio básico que norteia o processo de tradução é tornar acessível, por meio de palavras, informações-chaves transmitidas de modo essencialmente visual. Ao traduzir, o audiodescritor cria um roteiro que servirá de apoio àquelas pessoas que têm o seu acesso às imagens impedido ou dificultado. O roteiro de AD é, então, verbalizado através de voz humana ou via softwares computacionais. No caso de materiais audiovisuais, o roteiro aproveita-se das pausas dos diálogos ou momentos de silêncio para inserir descrições do cenário, figurino, personagens, etc., bem como informações sobre mudanças espaço-temporais, por exemplo. No caso de imagens estáticas, os roteiros contêm informações como autoria, estilo, dimensão, disposição, cor, textura, etc., assim como a verbalização de qualquer texto escrito que acompanhe as imagens (balões em histórias em quadrinhos ou charges, por exemplo). Atualmente, para além da mera garantia de que materiais audiovisuais/visuais sejam audiodescritos, é preciso que se assegure que as ADs oferecidas tenham qualidade. Para tanto, três requisitos básicos precisam ser garantidos na fase de produção do roteiro de AD: 1- É preciso que o audiodescritor vidente responsável pelo roteiro conheça sua audiência; 2- É necessário que o audiodescritor consultor, pessoa com deficiência visual que dará feedback a esse roteirista com relação às necessidades e preferências do público-alvo, seja um profissional capacitado; e 3- É fundamental que esses dois profissionais saibam como trabalhar em parceria. Bons cursos de formação são fundamentais nesse sentido. O momento atual, inclusive, é bastante propício para a discussão dessa questão. Com o reconhecimento da profissão que passou a integrar a Classificação brasileira de Ocupações (CBO) em 2013 e a aprovação de leis que tornam o recurso da AD obrigatório não só nos canais abertos de televisão, mas também no cinema, a pressão para que mais e mais bens culturais tornem-se acessíveis é cada vez maior. Como consequência, a demanda por cursos de formação em AD também é crescente. Neste estudo, aliamos conclusões advindas de pesquisas anteriores sobre as competências necessárias a roteiristas e consultores a nossa experiência pessoal em cursos de capacitação em AD no intuito de delinear diretrizes que venham nortear propostas de qualificação para o trabalho com AD. Preconizamos que roteiristas e consultores sejam formados em conjunto em cursos que aliem teoria e prática e tenham ênfase no trabalho colaborativo. Ao adotar uma perspectiva inclusiva e fomentar uma parceria mais efetiva entre roteiristas e consultores, estaremos, inclusive, dando ainda maior destaque à função social dessa modalidade de tradução, uma vez que a inclusão e a acessibilidade não estarão restritas apenas ao consumo, mas permearão todo o processo, ou seja, da formação dos profissionais à produção e fruição dos produtos audiodescritos.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Formação de Tradutores e Tradutoras