PAUL MOREL E A ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA DE SONS AND LOVERS

Autores

  • Jamille Carvalho Frota
  • Carlos Augusto Viana da Silva

Resumo

O romance moderno inglês Sons and Lovers (1913), do escritor inglês D. H. Lawrence, discute assuntos polêmicos, tais como relações familiares, sexualidade, política e classe social. A narrativa conta a história de Paul Morel, que cresceu próximo a Nottingham, uma área de trabalho nas minas, e deseja ser um artista criativo. Paul é o único membro da família com habilidades artísticas, estimulado por sua mãe, que não o quer trabalhando nas minas como seu pai, que se torna um mineiro ainda criança. Mrs. Morel espera que seus filhos escapem do destino difícil de ser mineiro. Mr. Morel sempre pertenceu à classe trabalhadora, enquanto que Mrs. Morel advém de uma classe socialmente mais privilegiada, é uma mulher culta e educada, enquanto que seu marido é o oposto, porém cheio de vivacidade. Este romance pode ser lido como o primeiro sobre a classe trabalhadora inglesa, contado do ponto de vista de um autor que a ela pertencia (HOPKIN,1968 apud MOYNAHAN). Nesse sentido, Lawrence problematiza, através da construção desse personagem, questões sociais e suas implicações no contexto sócio-histórico. O presente trabalho analisa a construção do personagem Paul Morel na adaptação cinematográfica homônima do romance por Jack Cardiff (1960). Partimos da ideia de que o personagem Paul Morel assume nova significação na narrativa fílmica, devido ao apagamento de sua complexidade psicológica, tornando-o mais superficial na tela. Com base nos princípios teóricos de Antonio Candido (2009) sobre procedimentos de construção de personagens, podemos dizer que Paul foi projetado de acordo com o mundo do autor e experiências vividas por ele mesmo, porém a organização estrutural do personagem vai muito além da mera característica autobiográfica do romance; e Cattrysse (2014), que entende a adaptação como um processo de tradução e, assim, com características próprias de uma nova obra. Discutiremos algumas estratégias de tradução que, embora ressignificando o personagem principal, em termos de minimizar as ideias e sentimentos confusos e profundos do personagem, afetando a sua complexidade psicológica e, consequentemente, temas relevantes abordados no romance, (FARR, 1970), (MOYNAHAN, 1968) e (GREIFF, 2001), focalizam outras questões temáticas importantes de Lawrence para o espectador, tais como o contexto histórico e social após a consolidação da industrialização, a situação social da classe trabalhadora, valores puritanos e o papel das mulheres na sociedade inglesa em meados do século XX. Os resultados mostraram que o diretor Jack Cardiff optou por aprofundar as questões sociais no filme, representadas por Mr. Morel (Trevor Howard), personagem que ultrapassa a característica plana do romance e por Clara Dawes (Mary Ure), personagem mais próxima do texto de partida, devido aos acontecimentos históricos da metade do século XX, bem como optou por abordar aspectos da idealização do século anterior, como são mostradas na tela por Mrs. Morel, Miriam e Mrs. Leivers, e as imposições domésticas da era vitoriana para as mulheres. Uma das estratégias utilizadas pelo cineasta para mostrar o advento da industrialização em contraposição ao natural - tema recorrente na obra de Lawrence - são as cenas em que a câmera foca nas paisagens rurais e pacatas do interior da Inglaterra, e seu contraste com as minas e suas máquinas industriais.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução e Análise Textual