UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS TRADUÇÕES BRASILEIRAS DA OBRA THE CANTERBURY TALES DE GEOFFREY CHAUCER
Resumo
Este trabalho objetiva analisar comparativamente duas traduções brasileiras da obra The Canterbury Tales (séc. XIV) do autor medieval inglês Geoffery Chaucer (c.1342- 1400). Composto por um prólogo mais vinte e quatro contos escritos em versos dísticos, utilizando o inglês médio (Middle English), o texto chauceriano permanece como um dos marcos da literatura ocidental. A obra narra uma peregrinação, na qual vinte e nove peregrinos, aos quais se junta o próprio Chaucer, fazem juntos à cidade de Canterbury na Inglaterra, para uma vista ao túmulo de Santo Thomas à Becket. O albergueiro da estalagem na qual se hospedam sugere que, para se distraírem na viagem, contem duas histórias na ida e duas na volta, prometendo ao melhor narrador um jantar como prêmio. Infelizmente, o plano da obra ficou inconcluso, restando apenas a quantidade de narrativas acima mencionadas. Como observa Pedro Theobald (2015, p.198), a inovação e a contribuição dos Canterbury Tales se encontram menos na “invenção pura de histórias originais (poucas) do que na imitação criativa de histórias conhecidas, a que Chaucer empresta uma graça e vivacidade especial.” No tocante às referidas traduções, vale ressaltar que a tradução poética é vista por muitos tradutores como sendo uma das mais difíceis de ser realizada, o que enriquece as discussões sobre os estudos de tradução, quando se coloca em destaque especificidades desse campo da tradução como, por exemplo, a complexidade dos aspectos rítmicos, da rima (quando existente), entre outros elementos. No caso das traduções aqui estudadas, temos de antemão, a própria escolha por parte do tradutor Vizioli de traduzir os versos em prosa, opção que Botelho já não irá adotar, traduzindo em versos. Podemos, portanto, observar que a tradução constitui um ato de criação no sentido de transportar um universo cultural e linguístico de um lugar (no caso aqui, o contexto medieval inglês) para outro (o contexto linguístico em língua portuguesa no Brasil do final do século XX). Nesta investigação, pautamo-nos em duas traduções especificamente: a primeira foi traduzida em prosa por Paulo Vizioli tomando como texto de partida para sua tradução as edições em inglês médio dos eruditos W. W. Skeat e F. N. Robinson, e publicada em 1988 com o título de Os contos de Cantuária. O tradutor justifica sua escolha pela prosa com o fato de que na época de Chaucer, a maioria dos textos era escrita em versos, desde crônicas até tratados filosóficos, observando que, se ele escrevesse nos dias atuais, teria escrito seus contos em forma de prosa. A segunda tradução foi realizada, respeitando a estrutura original do texto em versos, por José Francisco Botelho, a partir da tradução para o inglês moderno de Nevill Coghill, e publicada em 2013 com o título de Contos da Cantuária. Segundo Botelho, houve a intenção de recobrar em alguns trechos “certo estranhamento cultural”, o que o fez consultar o original em inglês médio em vez da tradução moderna. A partir dessas duas traduções, com o apoio teórico dos estudos descritivos da tradução e dos estudos de Theobald (2015), Bloom (2010), Milton (1998), Barbosa (2004), Vizioli (1998) e Botelho (2013), foram analisados, comparativamente, trechos de partes da obra como o “Prólogo geral” e “O conto da Mulher de Bath”, objetivando identificar possíveis marcas das estratégias tradutórias dos referidos textos. Tais análises também objetivam discutir a complexidade e, portanto, várias das especificidades do exercício de tradução, especialmente quando se trata de poesia. Essas discussões, sem dúvida, são fundamentais para expandir e provocar novos olhares a respeito da tradução literária que se constitui como um desafio profundamente instigante.Downloads
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Publicado
2017-09-27
Edição
Seção
Comunicações Breves Tradução e Literaturas Não-Canônicas