FOTOGRAFIA E ILUSTRAÇÃO: HIBRIDISMO DE LINGUAGENS NA TRANSCODIFICAÇÃO CRIATIVA PARA A CAPA DA TRADUÇÃO BRASILEIRA DE A GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Autores

  • Maria Aparecida Monteiro Bessana

Resumo

Este trabalho, lastreado na definição de Roman Jakobson de tradução intersemiótica e considerando a importância atribuída à capa de livros por Maria Timozcko (2010) na produção de sentidos, propõe uma análise das linguagens visuais usadas na capa do livro A guerra civil espanhola, de Francisco J. Romero Salvadó, publicado no Brasil pela Editora Zahar, em tradução de Barbara Duarte. A imagem, como afirma Martine Joly (1996), comunica e transmite mensagens, nas quais seu motivo pode ter uma significação particular, relacionada tanto a seu contexto interno quanto ao de seu surgimento, participando da mensagem visual e contribuindo para a compreensão e a produção da mensagem. A linguagem visual adquiriu relevância na área editorial quando, no fim do século XIX, a capa se tornou importante meio de divulgação e de marketing, originando, inclusive, o termo grabability como um indicador do grau de atração ou da capacidade de ser pego exercido sobre o comprador/leitor. Mais do que influenciar a opção por um ou outro livro, a capa, responsabilidade exclusiva do editor e/ou do autor, como aponta Gérard Genette em seu estudo sobre paratextos (1986), expressa sentidos resultantes de determinada leitura, em um contexto específico, localizável no tempo e no espaço, traduzidos para outro sistema sígnico. Entre os diversos livros traduzidos no Brasil sobre a Guerra Civil Espanhola nos últimos anos, a capa da obra analisada neste trabalho diferencia-se por fazer uma associação do conflito em si com a Revolução Russa de 1917, usando elementos que remetem à estética soviética das décadas posteriores à tomada do poder pelos bolcheviques. Nessa recriação interpretativa, em primeiro lugar chama a atenção o uso de uma das mais emblemáticas e conhecidas fotografias associadas ao conflito espanhol, “Hand Grenade”, registrada em 3/6/1938, a uma ilustração, que, de imediato, remete a uma das imagens mais tradicionais, ou um estereótipo, quando se trata da cultura espanhola: o touro. Ao considerarmos tal composição levamos em conta, antes de mais nada, dois aspectos. O primeiro respeita à fotografia que, nascida concomitantemente à sociedade industrial, embora tenha sido, desde seu surgimento, usada como “prova” definitiva, “testemunho” de verdade, adquirindo ao longo do tempo status de credibilidade e provida de um valor “incontestável”, por propiciar fragmentos visuais que informam das múltiplas atividades do homem e de sua ação sobre os outros e sobre a natureza, como afirma Boris Kossoy (2009), tal como outros documentos históricos deve ter seus elementos constitutivos submetidos a um exame crítico – o assunto, o objeto e a tecnologia usada para seu registro, além de o fotógrafo, o autor –, razões pelas quais não pode ser vista como um documento com valor em si, neutro, isento de manipulação. O segundo refere-se à ilustração que, em sua definição clássica, é um tipo de trabalho gráfico – desenho, pintura, esboço ou qualquer outro tipo de arte gráfica – destinado a aprimorar um texto, uma ideia, um conceito, a fim que garantir que a mensagem seja claramente transmitida ao público. Para analisar essa capa e os elementos que a compõem, concretos e perceptíveis, do ângulo do que suscitam no decodificador/leitor e do aspecto semiótico da produção de sentido, como provocam significações e interpretações, adota-se a semiótica desenvolvida por Charles Sanders Peirce, tentando identificar os tipos de signos empregados e decifrar os sentidos que a “naturalidade” aparente das mensagens visuais implica, como nos lembra Joly (1996), e também suas relações com o texto que lhes deu origem, identificando e analisando os significados produzidos pelo sistema não verbal para compreender o que este diz e como o diz.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução Intersemiótica