O PROCESSO TRADUTÓRIO DO PERSONAGEM WINSTON SMITH EM 1984, DE GEORGE ORWELL, PARA O CINEMA: A CONSTRUÇÃO DO PROTAGONISTA SOB A INFLUÊNCIA DA VIGILÂNCIA

Autores

  • Henrique Gomes da Silva Júnior

Resumo

No romance 1984 (1949), de George Orwell, vários temas são elucidados, entre eles manipulação de informação, controle social e vigilância. Nessa obra, Orwell nos apresenta Winston Smith, personagem que vive em uma sociedade distópica onde todos são vigiados no intuito de mantê-los sob o controle de um único partido, INGSOC e seu líder supremo, Big brother (personificação do partido). Essa vigilância acontece sob diversas formas, desde câmeras (chamadas de teletelas) espalhadas em locais de trabalho e residências, até grupos de espiões formados por adultos e crianças que vigiam todos os cidadãos, inclusive os próprios familiares, e denunciam qualquer comportamento que não corresponda aos ideais do partido. Winston sente o desejo de se rebelar contra o sistema, mas suas ações são limitadas devido à vigilância incessante e a ameaça de ser punido com a morte. Esse medo do protagonista é reforçado principalmente através do conceito de pensamento crime que se trata basicamente da ideia de que ainda que o indivíduo cometa um ato rebelde apenas em pensamento essa ação mental será trazida à tona de alguma forma e será vista e denunciada pelos espiões do INGSOC. Winston comete esse crime, pois passa a questionar o espaço social onde vive e as mentiras espalhadas como verdade pelo alto escalão do partido. O romance em questão já passou por diversas adaptações para o cinema, sendo a última em 1984, com título homônimo realizado pelo diretor Michael Radford. Neste filme, o diretor reconstrói alguns elementos da narrativa de Orwell na linguagem do sistema cinematográfico, tais como o controle de informação, a desconstrução da língua escrita e falada, o pensamento crime e a vigilância da vida privada. Todas essas ferramentas são utilizadas pelo partido para manipular e controlar a população de acordo com seus interesses. Nesse sentido, propomos fazer uma análise da construção do personagem Winston Smith sob o olhar vigilante do Big Brother do romance para a tela. Além disso, objetivamos apontar os desdobramentos da observação constante, ou seja, de quais formas a vigilância é retratada no espaço e nos personagens e como a falta de privacidade molda o caráter do protagonista. Partimos da ideia de que as atitudes de Winston são modificadas diante dos mecanismos usados para vigiar e disciplinar os indivíduos tanto no romance quanto no filme. Para nos auxiliar na análise é necessário que façamos uma reflexão a respeito da linguagem literária e cinematográfica, assim como e também um profundo estudo sobre os temas presentes nas duas obras para que possamos compreender as escolhas utilizadas para elaborar a adaptação. Para tanto, os trabalhos de Cattrysse (1992), Martin (2005), Lefevere (1992), Foucalt (1977), Orwell (2013), entre outros, servirão de suporte teórico para realizarmos da proposta da pesquisa. Os resultados preliminares mostram que, assim como o personagem do romance, o protagonista do filme é submetido a diversos mecanismos de vigilância que moldam a sua conduta dentro do ambiente em que está inserido. Utilizando recursos próprios da linguagem cinematográfica, o diretor reconstrói os aparatos de controle social através de objetos no cenário como câmeras instaladas por todo o espaço, pôsteres do Big brother presentes em quase todos os quadros, olhares suspeitos dos figurantes e o uso de câmera subjetiva para mostrar o ponto de vista dos observadores e reforçar que nada escapa ao olhar do líder supremo. Além disso, as narrações em voice-over de Winston evidenciam seus pensamentos e desejos de se libertar ao mesmo tempo que mostra um individuo que, apesar de temer ser pego, tem a consciência de que mais cedo ou mais tarde seus atos rebeldes serão descobertos por conta do controle exercido pelo partido sob suas ações e que estão presente nos recantos mais íntimos do seu inconsciente.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução Intersemiótica