TRADUZINDO ROMANCES FRANCESES NA IMPRENSA PERIÓDICA DO SÉCULO XIX: O PERFIL DE ROBERTO AUGUSTO COLIN

Autores

  • Camyle de Araújo Silva
  • Wiebke Röben de Alencar Xavier

Resumo

No Brasil de meados do século XIX, a busca pela popularização da literatura no país teve a sua frente um gênero em especial, o romance. Já popular na Europa, ele foi trazido para o Brasil através de traduções veiculadas na imprensa periódica e, aos poucos, começou a ser ensaiado por escritores brasileiros. Nesse cenário, a tradução funcionou, sem dúvida, como um dos principais meios de mediação cultural na divulgação e circulação do gênero romance. Isso posto, o presente trabalho tem por objetivo apresentar um vislumbre do que se tratava a atividade de traduzir romances no contexto imprensa periódica brasileira do século XIX através do estudo de caso do trabalho do tradutor Roberto Augusto Colin na revista O Archivo: Jornal Scientífico e Litterário, que teve 9 números publicados no ano de 1846, no Maranhão. Essa revista era o órgão oficial da Associação Literária Maranhense, entidade precursora da Academia Maranhense de Letras, da qual Roberto Colin era funcionário. Além de funcionário da Associação, Colin também desempenhava o papel de editor de O Archivo, onde também atuava como tradutor. Ao todo, ele traduziu 5 textos para essa revista, dentre os quais estão 3 romances, todos tendo o francês como língua de partida. São eles: “O lago da fada”, de Louis François Audibert, “A salvação de uma mãe ou a última hora de Fort-Royal”, da escritora Hermance Lesguillon, e “O irmão e a irmã”, de Alexandre Dumas (pai). Esse romance traduzido de Dumas nos serviu de base para uma análise textual mais aprofundada do perfil de Colin enquanto tradutor. Para visualizar a complexidade das conexões entre os espaços nacionais em se tratando da circulação desses romances estrangeiros traduzidos no Brasil, nos pautamos teoricamente no conceito de transferências culturais de Michel Espagne (2012), enfocando a analise da passagem de um objeto do seu contexto de surgimento para um novo contexto de recepção. Nessa perspectiva, entende-se que o tradutor exerce um papel essencial de mediador, responsável por redigir um outro texto que será recebido num novo contexto. Com o apoio metodológico do trabalho de Javier Franco Aixelá (2013) acerca da tradução de itens culturais-específicos, em que o autor categoriza diversas estratégias de tradução organizadas de acordo com o grau de manipulação cultural em dois grupos principais separados pela sua natureza conservativa ou substitutiva em relação a cultura receptora. Assim, mapeamos as escolhas de tradução de itens culturais-específicos feitas por Roberto Augusto Colin e encontramos que o mesmo optou, em sua maioria, por estratégias tradutórias conservadoras: no caso de termos que já contavam com uma tradução pré-estabelecida no português, ele escolheu mantê-las, quando não, ele optava pela repetição do termo na língua de partida no texto traduzido e, em alguns casos, apenas realizava adaptações ortográficas aos termos estrangeiros. Na imprensa periódica do século XIX, era comum que tradutores e/ou editores se apropriassem dos textos estrangeiros de maneira muito peculiar, produzindo traduções de maneira assaz livre, realizando diversas modificações e cortes considerados necessários para que os textos importados se tornassem parte integrante e indissociável da produção local. Sendo assim, podemos afirmar que Roberto Colin, com sua tradução de Dumas, foi na contramão das tendências tradutórias encontradas no período.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução, Trasnferência Cultural e Circulação