DO MAJORAT DE E. T. A. HOFFMANN AO MORGADO NA MINERVA BRASILIENSE: TRADUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DE UM CONTO FANTÁSTICO

Autores

  • Marcos Túlio Fernandes
  • Marcos Vinícius Fernandes

Resumo

O início do conto fantástico no Brasil do século XIX está diretamente ligado ao desembarque de traduções francesas de contos do escritor romântico alemão E. T. A. Hoffmann. Considerado o maior artífice desse gênero de narrativas insólitas, o escritor alcançou sucesso primeiro na imprensa periódica de seu país com a publicação de contos como Der Sandmann [O homem da areia], de novelas como Das Fräulein von Scuderi [A senhorita de Scuderi] e de romances como Die Elixiere des Teufels [Os Elixires do Diabo]. Após um refluxo editorial na Alemanha, em razão de sua morte, no ano de 1822, os contos de Hoffmann despontaram no cenário romântico francês tornando-se um fenômeno global a partir da tradução de Contes Fantastiques de E. T. A. Hoffmann (1829-1830) feita pelo tradutor franco-germano Loève-Veimars primeiro para Revue de Paris e depois para o editor Eugène Renduel, rendendo-lhes 12 volumes. A partir das traduções de Veimars criou-se um clima de efervescência cultural em torno do fantástico hoffmanniano, instigando o trabalho de outros tradutores e fomentando a produção de narrativas do gênero nos mais prestigiados veículos editoriais franceses. A bordo deles, Hoffmann aportaria em diversos espaços transatlânticos, beneficiado tanto pela relevância da cultura francesa quanto pela circulação mundial dos impressos, facilitada àquela época pelo desenvolvimento dos transportes marítimos, no século XIX. O pesquisador brasileiro Hélio Lopes (1997, 265) abriu a caixa de Pandora sobre o fantástico brasileiro quando afirmou que “Possivelmente, a primeira obra de Hoffmann a publicar-se no Brasil terá sido ‘O Morgado’, na Biblioteca Brasílica da revista Minerva Brasiliense (1843-1845)”. A presença de “O Morgado: conto phantastico de Ern.-Theod.-Guilherme Hoffmann”, nas quarta e sexta edições da revista, no ano de 1845, permitiu-nos investigar as circunstâncias dessa tradução em língua portuguesa e analisar a (re)escritura de Das Majorat no Brasil, a partir das transformações operadas pelo tradutor. Esta comunicação se propõe a analisar as transformações do fantástico de Hoffmann no cenário brasileiro da primeira metade do século XIX a partir de conceitos de tradução como reescrita que “reflete uma certa ideologia e uma poética e, como tal, manipula a literatura para que ela funcione dentro de uma sociedade determinada e de uma forma determinada” (LEFEVERE, 2007, 11), mas também apropriando-se do conceito de Transferência Cultural que avalia a definição de literatura nacional como “praticamente impossível sem o recurso continuado a elementos de culturas estrangeiras” (ESPAGNE, 1994, 7).

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução, Trasnferência Cultural e Circulação