E. T. A. HOFFMANN EM JORNAIS DO RECIFE: UMA TRADUÇÃO DE "O MORGADO – CONTO NOCTURNO"

Autores

  • Marcos Vinícius Fernandes
  • Marcos Túlio Fernandes

Resumo

O mais representativo autor do gênero fantástico, o escritor romântico alemão Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, teve suas narrativas traduzidas em dois periódicos da capital pernambucana nos oitocentos. O Liberal Pernambucano e o Jornal do Recife serviram de suporte à publicação de uma mesma narrativa: “O Morgado – conto nocturno” de Contes Nocturnes, tradução de La Bédollière. A cidade do Recife foi um polo cultural para onde convergiam as principais modas literárias do século XIX, a exemplo do conto fantástico, ressignificado em traduções brasileiras naqueles dois periódicos. A presença de “O Morgado” nos mencionados veículos aponta para a consolidação do gênero em outros circuitos culturais brasileiros, além de seu primeiro espaço de acolhida no Rio de Janeiro, que conheceu a tradução da obra do escritor alemão pelas páginas da Minerva Brasiliense, em 1843. Tal conjuntura também revela um movimento oposto na década de 1850 entre os ambientes culturais brasileiro e francês. Enquanto o fantástico entrava em declínio na França, no Brasil evidenciou-se um cenário no qual essa vertente narrativa se mostrava em franca ascensão. Nas letras francesas, variada foi a atividade tradutória que comunicou o fantástico de Hoffmann em versões que o harmonizavam ao gosto francês (Loève-Veimars e La Bédollière) ou que o valorizavam pela originalidade identitária de escritor alemão (Xavier Marmier, Henri Egmont, Paul Christian), como assinala Teichmann (1961). Embora apresentem notória concordância de elementos temáticos e linguísticos, as duas publicações do Recife não se restringem a uma única tradução do conto em foco, sendo produtos de tradutores brasileiros anônimos diferentes ou de um mesmo tradutor, com objetivo de atender a novas demandas editoriais. Tanto a tradução do Liberal pernambucano, em 1856, quanto aquela encontrada nas páginas do Jornal do Recife, em 1861, são apropriações do fantástico hoffmanniano extraídas das versões popularizadas pelo editor Gustave Barba do trabalho de La Bédollière. Se o “O Morgado” de Minerva Brasiliense conformava-se ao elitismo de um seleto público de leitores formados por bacharéis e acadêmicos familiarizados com as revistas francesas em sintonia com a cena carioca na corte, as traduções dos jornais recifenses, muito embora direcionada, de igual modo, à juventude acadêmica, responderam a um período de abertura econômica favorável à circulação de impressos transatlânticos do qual a capital de Pernambuco também gozou. No desembarque dos artigos trazidos pelos paquebots, constava o sortimento de impressos que ocupavam as prateleiras dos livreiros-editores e as salas dos gabinetes de leitura que animaram a intelectualidade acadêmica. Logo, a recepção do conto de Hoffmann por traduções francesas e sua divulgação em periódicos distantes do ambiente da corte refletem um contexto próprio de regiões brasileiras também ligadas aos grandes centros europeus exportadores de manufaturas do mercado editorial. Desta maneira, através do cotejo de edições versadas do alemão para o francês com as publicadas nos jornais pernambucanos temos um exemplo de como a tradução de La Bédollière atendia às necessidades de consumo livresco do Recife e incentivava novas traduções brasileiras do conto de Hoffmann.

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Publicado

2017-09-27

Edição

Seção

Comunicações Breves Eixo Tradução, Trasnferência Cultural e Circulação