A Crise da Narrativa sob os Auspícios da Loucura: Ironia, Indecibilidade e Minimalismo em The Butcher Boy, e em sua Adaptação para o Teatro, Frank Pig Says Hello

Resumo

A crise da narrativa ocupa posição de destaque nos debates sobre a arte pós-moderna. A subsunção do passado ao presente, a recusa à lógica de causalidade, o gosto por uma textualidade intensa, eufórica, convergem para o que Jameson (1991) chamou de um “presente esquizofrênico”, um espaço, mais que um tempo narrativo, no qual a práxis se manifesta por associações enigmáticas, discursos fragmentados, minimalistas, que ameaçam o tecido narrativo, numa estética marcada pela ambiguidade e pela indecibilidade. Autor de uma obra atravessada por traços dessa estética pós-moderna, o irlandês Patrick McCabe tem produzido romances, contos, peças de teatro e de rádio, assim como roteiros para o cinema. Dentre os temas que se sobressaem em seus escritos, a violência e a loucura contribuem para uma arte irônica e paródica, dominada pelo “humor negro”. Há, no entanto, muito de consciência e crítica social e política cifradas na obra de Pat McCabe. Personagens excluídos, marginalizados, injustiçados, dizem muito sobre a vida econômica, política e social de uma Irlanda pós-colonial, assombrada por conflitos e contradições. É nesse enquadramento estético e histórico-literário que se situa The Butcher Boy (1992), o premiado romance de McCabe, narrativa conduzida por um personagem louco, cujo discurso presentifica as memórias de sua infância. A estética esquizofrênica do romance se faz ainda mais radical em Frank Pig Says Hello, sua adaptação para o teatro. O presente trabalho investiga, nessas duas obras, os impactos das experimentações estéticas acima descritas, analisando como, ao invés de obliterar a significação, essas estratégias produzem um pathos comovente, perturbador, ainda que substituam o sublime pelo grotesco.