Pays Sans Chapeau (1997), de Dany Laferrière: uma escrita entre espaços culturais
Palavras-chave:
Tradução, Dany Laferrière, Literatura quebequense haitianaResumo
O presente estudo tem como objetivo refletir sobre a literatura haitiana de Dany Laferrière, no contexto da constituição da literatura quebequense, ou seja, o Canadá como um país anfitrião. As obras desse autor, que foi exilado jovem durante a ditadura Duvalier no Haiti, têm logrado sucesso desde seu primeiro romance. Desse modo, observar a produção literária de Laferrière sem remeter à imagem do povo haitiano é praticamente impossível. Todavia, não podemos esquecer que a iniciação na arte escrita, por parte desse literato, se desenvolveu em plena segunda diáspora haitiana, e que a paisagem literária do Quebec pode ter contribuído como lugar passível de liberdade para a inauguração de uma nova literatura. Também considerada transgressora por propor críticas de cunho marxista, indigenista, essa nova literatura se opõe aos enraizamentos crescentes das literaturas de exílio da primeira geração de intelectuais da diáspora. Nesse sentido, compreendemos que as transferências culturais poderiam nos ajudar a assimilar os vários arranjos presentes nessa literatura, que têm certa relevância na construção histórica e literária dos dois países e na formação cultural dos vários povos que a constituem. Portanto, focamo-nos, mais precisamente, na perspectiva das transferências culturais para a análise da obra Pays sans chapeau (1997). Inicialmente, ponderamos a respeito dos conceitos de transferência cultural (ESPAGNE, 2013) e transferências entre espaços culturais (ETTE, 2014), com a intenção de compreendermos a autonomia da literatura sem domicílio fixo, seus movimentos e seu contexto. Posteriormente, discutimos as primeiras literaturas quebequenses, com a finalidade de contemplar a constituição literária e a sua possível inclinação aos aspectos transculturais presentes na literatura nacional quebequense, a partir das questões de subversões dos textos em emergência (ANDRÈS, 1999). Em seguida, dialogamos sobre as relações entre Quebec e Haiti, levando em consideração as questões de exílio e identidade nas literaturas quebequense e haitiana, e haitana-quebequense, com a pretensão de observar os possíveis encontros e entraves entre as composições dos autores nos dois países. Por último, apresentamos uma análise da obra de Laferrière, com um recorte em Pays réel . Nesse sentido, buscamos analisar a obra utilizando os níveis de mobilidade propostos por Ette (2014), tais como: o Cultural, o Linguístico e o Vetorial. Para nós, a referida narrativa imprimiria uma mobilidade advinda da pluralidade cultural inerente aos movimentos entre os espaços, ou seja, as transferências entre áreas culturais incorporadas na própria literatura. Os resultados de nossa pesquisa demonstram que: a) a história literária nacional, sobretudo quebequense, tem vivenciado momentos de questionamentos relevantes para a compreensão dos novos horizontes que se estabelecem na esfera das literaturas sem domicílio fixo, as quais necessitam de um estudo que contemple suas pluralidades; b) a constituição da escrita dita “haitiana”, considerada imigrante no Quebec, na verdade é fruto de uma construção que não se atém apenas ao território, que, por vezes, “nega nacionalidades” e “pertencimentos”; c) Pays sans chapeau (1997) captura a essência de mobilidade e nos revela elementos estéticos e ideológicos que estão além do controle territorial nacional, seja haitiano ou quebequense, e que d) a referida narrativa pode ser fruto de uma globalização acelerada que se desenvolveu de forma concreta na escrita de Dany Laferrière, o qual tem-se posicionado a favor da literatura que não se atenha ao território literário nacional.Downloads
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Publicado
2018-03-01
Edição
Seção
Tradução, Transferência Cultural e Circulação