A tradicionalidade do agricultor familiar do cerrado piauiense
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1981-1268.2017v11n2.35016Abstract
O desenvolvimento do agronegócio no cerrado piauiense é um fenômeno recente da história agrário/agrícola do Brasil. Esse movimento de expansão da fronteira agropecuária tem repercutido em intensas alterações nas paisagens e nos modos de vida rurais, os quais incluem saberes, práticas e conhecimentos baseados nas estratégias econômicas, sociais, culturais e ambientais de sobrevivência das populações das localidades. Nessa perspectiva, ressalta-se que este artigo pretende analisar a situação dos modos de vida dos agricultores familiares do cerrado piauiense, na medida em que este ator social se insere no mundo globalizado conservando limites que permitem a manutenção de sua etnicidade, por meio da tradição e cultura. O estudo elegeu Uruçuí, município localizado no bioma Cerrado e que se destaca por ser pioneiro em abrigar empresas de agronegócios no Piauí e por oferecer a infraestrutura necessária para o agronegócio modernizar as áreas de chapadas, visando a produção de exportáveis. Esta pesquisa qualiquantitativa tem natureza descritiva/explicativa, embasada no método etnogeográfico, o qual foi subsidiado por observações sistemáticas, formulários e entrevistas semiestruturados com 254 agricultores familiares, com vistas a conhecer saberes, objetos e práticas de trabalho agrícola, códigos de interconhecimento, relações culturais e identidade. Concluiu-se que os modos de vida dos agricultores familiares denotavam uma ciência do equilíbrio carregada de valores simbólicos e marcada por um patrimônio de saberes, conhecimentos, experiências e técnicas tradicionais que se ajustava precariamente às tecnologias modernas. E que as relações de reciprocidade não foram diluídas com a chegada do agronegócio, tampouco a produção agropecuária desprezava as linguagens de matriz camponesa.
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