Descolonização africana e a crítica do dualismo antropológico europeu: quando o outro da modernidade reflexiviza, corrige e educa a modernidade

Autores

  • Fernando Danner Universidade Federal de Rondônia
  • Julie Dorrico Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) https://orcid.org/0000-0002-5428-2432
  • Leno Francisco Danner Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.v8i2.57424

Palavras-chave:

Modernidade Europeia; Outro da Modernidade; Dualismo Antropológico; Eurocentrismo-Colonialismo-Racismo; Crítica da Modernidade.

Resumo

O texto discute a crítica realizada pela descolonização africana relativamente ao dualismo antropológico europeu que serve como substrato para a constituição do discurso filosófico-sociológico-antropológico da modernidade-modernização ocidental e que implica (a) na cisão, na separação, na autonomia, na independência, da endogenia, na autorreferencialidade, na autossubsistência, na autossuficiência e na sobreposição da Europa em relação a todos os outros da Europa, correlatamente (b) à legitimação da Europa, por meio da racionalização, como presente efetivo, atualidade substantiva e abertura e direcionamento ao futuro, a única instância paradigmático-normativa capaz de fundar, legitimar e realizar o universalismo não-etnocêntrico e não-egocêntrico e com condições de gerar crítica, reflexividade, mobilidade e emancipação, ao contrário de todos os outros da modernidade que, enquanto sopa indiferenciada e generalização absoluta demarcadas por uma condição mítica, são concebidos como perspectiva pré-moderna e antimoderna e, nesse sentido, como passado antropológico, incapazes de gerar crítica, reflexividade, mobilidade e transformação ao longo do tempo, sendo demarcados por dogmatismo-fundamentalismo e contextualismo-particularismo. A descolonização africana, por meio da tríade eurocentrismo-colonialismo-racismo e/como fascismo, desconstruirá o dualismo antropológico, a cegueira histórico-sociológica e a romantização normativo-filosófica do racionalismo ocidental e, a partir da voz-práxis dos sujeitos menorizados-colonizados construídos pela Europa em termos do racismo estrutural, apresentará uma nova perspectiva de um universalismo não-etnocêntrico e não-egocêntrico que somente pode ser gerado e sustentado como descolonização, isto é, como superação do dualismo antropológico e do consequente maniqueísmo político-moral que, enquanto racismo estrutural, tem demarcado a relação assimétrica da Europa para com os povos não-europeus sob a forma de usurpação, instrumentalização, produção de minorias político-culturais e, como coroamento disso, de realização de etnocídios-genocídios contra negros e indígenas.

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Biografia do Autor

Fernando Danner, Universidade Federal de Rondônia

Doutor em Filosofia pela PUCRS. Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Rondônia - UNIR. Professor do Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Rondônia e do Programa da Pós-Graduação em Direitos Humanos e Desenvolvimento da Justiça - UNIR/Emeron.

Julie Dorrico, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Doutoranda em Teoria da Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Estuda Literatura Indígena Brasileira. 

Leno Francisco Danner, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor de teoria política contemporânea no Departamento de Filosofia e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

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Arquivos adicionais

Publicado

2021-09-27

Como Citar

Danner, F., Dorrico, J. ., & Danner, L. F. (2021). Descolonização africana e a crítica do dualismo antropológico europeu: quando o outro da modernidade reflexiviza, corrige e educa a modernidade. Aufklärung: Revista De Filosofia, 8(2), p.111–142. https://doi.org/10.18012/arf.v8i2.57424

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