O rei Artur e sua apropriação na longa duração, do rei Afonso iii, de Portugal a D. Sebastião, o Desejado

Autores

  • Adriana ZIERER UEMA

Palavras-chave:

Rei Artur, Apropriação, Afonso III, D. Sebastião, o Desejado

Resumo

A partir do século XIII circularam na Península Ibérica dois relatos sobre a imagem do rei Artur que foram apropriados com fins políticos para o fortalecimento da figura régia. O primeiro foi a novela de cavalaria A Demanda do Santo Graal, manuscrito em francês traduzido para o português em meados desse século por ordem de Afonso III. A outra foi uma crônica navarra intitulada Libro de las Generaciones (1270), que continha a genealogia dos reis celtas, onde se destaca Artur e seus atributos mais característicos como rei-guerreiro e rei-justo. Em ambas as obras a predominância desses elementos foram inspiradas na obra Historia Regum Britanniae, de Geoffrey de Monmouth, escrita na Inglaterra entre 1135 e 1138. A Historia Regum apresenta Artur como um rei expansionista, matador de dois gigantes e conquistador de trinta reinos. Esses elementos reaparecem bem definidos nas narrativas que circularam na Península Ibérica. Os atributos positivos de Artur foram associados ao rei Afonso III de Portugal e em suas crônicas, em oposição ao seu irmão Sancho II, conhecido como um rei “fraco”, segundo as crônicas. Os elementos messiânicos de Artur também foram associados a D. João I e também ao seu comandante militar Nuno Álvares Pereira. A associação entre Artur e um rei ideal está também associada à imagem de D. Sebastião, morto na batalha de Alcácer-Quibir (1578). Até hoje algumas populações pobres no Brasil, como na ilha dos Lençóis, no Maranhão ainda acreditam no retorno de d. Sebastião para trazer uma era de prosperidade e riqueza, mito que está associado ao caráter messiânico do rei Artur.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BRAGA, Pedro. O Touro Encantado na Ilha dos Lençóis. O Sebastianismo no Maranhão. Petrópolis: Vozes, 2001.

CABRAL, Flávio José Gomes. Paraíso Terreal: A Rebelião Sebastianista na Serra do Rodeador – Pernambuco, 1820. São Paulo: Annablume, 2004.

CASSIRER, Ernest. Antropologia Filosófica. São Paulo: Mestre Jou, 1992.

CASTRO, Ivo. “Sobre a Data da Introdução na Península Ibérica do Ciclo Arturiano da Post-Vulgata”. In: Boletim de Filologia. Lisboa: n° 28, 1983, p. 81-98.

FARAL, Edmond. La Légende Arthuriene – Textes et Documents. Paris: Honoré Champion, 1929, 3 vols.

FERRETI, Sérgio. Encantaria Maranhense de D. Sebastião. Revista Lusófona de Estudos Culturais. Vol. 1, n.1, 2013, p. 262-285.

Disponível em: http://estudosculturais.com/revistalusofona/index.php/rlec/article/view/19 Acesso em: 01/06/2015.

FERRETI, Sérgio. O Mito e Ritos de D. Sebastião no Tambor de Mina. In: 10º Congresso Brasileiro de Folclore. Anais ... Recife: Comissão Nacional de Folclore, São Luís: Comissão Nacional de Folclore, 2004.

HERMANN, Jacqueline. No Reino do Desejado. A Construção do Sebastianismo em Portugal (séculos XVI e XVII). São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

LAPA, Manuel Rodrigues. Lições de Literatura Portuguesa. Coimbra: Coimbra Ed., 1973.

LOOMIS, Roger Sherman. The Development of Arthurian Romance. New York: Dover, 2000.

MARQUES, Maria Alegria. “D. Afonso III, o Bolonhês”. In: MENDONÇA, Manuela (coord.). História de Portugal. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 2010, v. 1.

MATTOSO, José. História de Portugal - A Monarquia Feudal. Lisboa: Editorial Estampa, s/d, v. II.

MEGIANI, Ana Paula Torres. O Jovem Rei Encantado. Expectativas do Messianismo Régio em Portugal, séculos XIII a XVI. São Paulo: Hucitec, 2003.

SARAIVA, A. J. e LOPES, Oscar. História da Literatura Portuguesa. Porto: Porto Ed., 1976.

SARAIVA, A.J. Crepúsculo da Idade Média em Portugal. Lisboa: Gradiva, 1988.

ZIERER, Adriana. Artur: de Guerreiro a Rei-Cristão nas Fontes Medievais Latinas e Célticas. Brathair. Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luís, vol. 2 n. 1, 2002, p. 45-61.

Disponível em: http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/viewFile/665/588 Acesso em 20/01/2015.

ZIERER, Adriana. “Artur como Modelo Régio nas Fontes Ibéricas Medievais (Parte I): A Demanda do Santo Graal”. In: ZIERER, Adriana e CAMPOS, Luciana de (Coord). Brathair. Revista Eletrônica de Estudos Celtas e Germânicos, Edição temática Matéria da Bretanha. Rio de Janeiro, v. 3 n. 2, 2003, p. 44-61 http://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/618, acesso em 10/03/2015.

ZIERER, Adriana. Afonso Henriques, D. João e D. Sebastião: o messianismo na legitimação simbólica da Dinastia de Avis. In: VIEIRA, Ana Livia B.; ZIERER, Adriana. (Org.). História Antiga e Medieval: rupturas, transformações e permanências: sociedade e imaginário. São Luís: Ed. UEMA, 2009, v. 2, p.49-74.

ZIERER, Adriana M. S. Modelos de Educativos de Nobre e de Rei na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. Acta Scientiarum. Education. Maringá, v. 32, n. 1, p. 55-66, 2010.

ZIERER, Adriana. Da Ilha dos bem aventurados à busca do Santo Graal: uma outra viagem pela Idade Média. São Luís: Ed. UEMA, 2013.

Downloads

Publicado

11.01.2016