O xamanismo na literatura indígena brasileira: da autoexpressão e autoafirmação identitárias ao criticismo social e à resistência política: notas desde A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert
Palavras-chave:
Literatura, Xamanismo, Autoafirmação, Resistência-LutaResumo
Argumentamos que a literatura indígena brasileira recente tem se servido do xamanismo como correlação de autoafirmação e de autoexpressão identitárias, em que a própria base antropológico-ontológica e sociocultural comunitária é ativada e utilizada como substrato da compreensão e da manifestação do indígena por si mesmo, e, a partir daqui, como ferramenta epistemológico-normativa de resistência cultural e de luta política relativamente à modernização imposta tecnocraticamente, assim como à violência e à negação sofridas enquanto minoria sociocultural. O xamanismo, reestilizado como voz-práxis literária, permite o reconectar-se e o enfatizar-se da tradição, do eu-nós coletivo (que se torna o eu-nós lírico) do discurso¬-práxis indígena, em que esse mesmo eu-nós fala por si mesmo e desde si mesmo, sem mediações políticas e cientificistas. Nesse sentido, o xamanismo na e como literatura indígena permite a voz-práxis do eu-nós comunitário, calcado na tradição ancestral, enfatizando-a como fundamento de si e utilizando-a como substrato da crítica e da luta públicas.
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