UM QUEBRA-CABEÇA INACABADO EM O ESPÍRITO DOS MEUS PAIS CONTINUA A SUBIR NA CHUVA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2024v26n1.69139

Palavras-chave:

Patricio Pron, O espírito dos meus pais continua a subir na chuva, ficção, arquivo, anarquivamento

Resumo

Uma geração pós-ditatorial de escritores, filhos daqueles que lutaram contra a Ditadura Militar Argentina, propõe um modelo de discurso que habita o espaço limiar entre o arquivo e a ficção, dispensando noções totalizantes, de modo a resistir ao silêncio e reconstituir vozes caladas. Este artigo busca investigar como a obra O espírito dos meus pais continua a subir na chuva (2018), do argentino Patricio Pron, desconstrói o discurso oficial ditatorial, abrindo-o a outras significações. A resposta sustentada é que o romance lança mão da atividade do anarquivamento (Antelo, 2007), que, ao rasurar a ordem e a razão do arquivo, inscreve, nele, novas possibilidades de configuração. Pode-se pensar no anarquivamento como uma operação de desativação do arquivo, que, inoperante (Agamben, 2007), é aberto a um novo uso na ficção literária. A pesquisa aqui apresentada tem como pressupostos teóricos os estudos de Raul Antelo (2007), a propósito da atividade de anarquivamento, e a concepção de arquivo de Jacques Derrida (2001) e Michel Foucault (2008). Vislumbram-se, na narrativa, documentos que não se oferecem apenas para ser interpretados, senão para serem experimentados e ressignificados. Nesse contramovimento ao arquivo, que abala o desenvolvimento falsamente natural das narrativas, estão os discursos reprimidos e calados pela história oficial.

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Biografia do Autor

Priscila Simeão Silva Maduro, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC SP

Doutoranda em Literatura e Crítica Literária na PUC-SP. Bolsista CAPES. Mestre pelo Programa de Estudos Pós-graduados em Literatura e Crítica Literária (PEPG), Possui graduação em Letras - Português e Inglês e Respectivas Literaturas pelo Centro Universitário FIEO (2010); especialização em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP (2016). Cursou 2 anos de Estudios Literarios Latinoamericanos na Universidad Tres de Febrero, Buenos Aires (nível mestrado). Pesquisadora participante do Grupo O Narrador e as fronteiras do relato, veiculado à PUC-SP.

Maria Rosa Duarte de Oliveira, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC SP

Possui doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com a tese "João Goulart na Imprensa de Personalidade a Personagem" e mestrado em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com a dissertação "A Escritura Semiótica de Memórias Póstumas de Brás Cubas". Atualmente, é professora titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde ministra a disciplina de Teoria Literária no Curso de Pós-Graduação em Literatura e Crítica Literária. Tem vasta experiência na área de Letras, especialmente em Teoria Literária e Literatura Brasileira, com pesquisas e publicações em livros e periódicos especializados, nacionais e internacionais, sobre as seguintes temáticas: Machado de Assis; processos de narratividade; narrador, autor e leitor; narrativas modernas e contemporâneas; linguagem poética; escrita, corpo e voz. Algumas publicações recentes: Agamben, Glissant, Zumthor: Voz. Pensamento. Linguagem (2013);Machado de Assis ? contos para muitas vozes (2015) edição bilíngue (português-espanhol); Impasses do narrador e da narrativa na contemporaneidade (2016). É editora científica, desde 2008, da Revista digital FronteiraZ, do Programa de Pós-graduação em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, e líder, desde 2004, do Grupo de Pesquisa " O narrador e as fronteiras do relato", inscrito no diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil - CNPq

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Publicado

30.12.2024

Edição

Seção

MUSEU DE TUDO 3: TEMA LIVRE