Efeitos barthesianos da escritura múltipla – os Machados de Assis

Autores

  • Maria Cristina Ribas

Palavras-chave:

correspondência, cuidado de si, escritura, personae

Resumo

O ensaio focaliza a correspondência original de Machado com os amigos acadêmicos, durante os onze anos em que ele esteve na Presidência da ABL. Como a nossa leitura vai encontrando uma ausência de dados factuais significativos no texto das cartas, ou seja, uma provável ausência de relato, um contar intransitivo, optamos por ler os silêncios, as fendas, as repetições, as negativas. Buscamos, então, na reflexão empreendida por Barthes em A Morte do Autor e nos estudos foucaultianos sobre O Cuidado de Si, desenvolver uma proposta de leitura que pudesse compreender as estratégias discursivas do Machado missivista, as máscaras e as dobras com que ele se (auto)constitui nessa escritura múltipla. Dialogamos, também, com a sua produção ficcional e a reflexão teórica empreendida por Roberto Correa dos Santos e Maria Helena Werneck. Ao analisar o texto destas cartas, mapeamos uma série de questões fundamentais para o entendimento das personae do escritor e sua inserção na sociedade carioca do século XIX. No amálgama de fragilidades físicas e afetivas relatadas, foram desentranhados alguns aspectos da experiência machadiana: reconhecimento e trânsito social, ofício de escritor, resistência e queixume de seus males reforçando a confraria dos poetas em seus laço e lastro social. Em Machado o exercício epistolar, assim concebido, é uma prática social na qual se ligam o trabalho de si para consigo e a comunicação – estratégica, redentora – com o outro.

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Referências

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Publicado

01.06.2006

Edição

Seção

Artigos do Dossiê