Seres híbridos medievais:
a revelação figural das harpias na Commedia de Dante
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n42.48112Palavras-chave:
Harpias, Commedia, PresençaResumo
O imaginário medieval é cheio de elementos mitológicos antigos que foram agregados pelo pensamento, seja devido à resistência, seja devido ao movimento de herança atrelado às suas presenças. A Commedia de Dante possui presentificações do passado atrelados à imagem mental e, portanto, presentes no imaginário medieval. A presença alegórica dos seres híbridos ou guardiões do Inferno, primeira parte da obra, é realizada de acordo com a intertextualidade dos poetas latinos que foram autorictas de Dante. Porém, o poeta também estava inserido no contexto em que os animais e híbridos remetiam aos vestígios de presenças divinas associadas ao comportamento humano, enquanto sinais da sua figuração no pós-morte ou da forma como a justiça divina se organizava. O intuito deste artigo é investigar a revelação figural das harpias presentificadas no segundo giro do sétimo círculo do inferno descrito na Commedia: Inferno, enquanto punidoras das almas dos suicidas. A análise se concentra na presença dos poetas antigos enquanto pré-figuração, na figuração poética de Dante e no imaginário medieval, como é o caso de suas presenças em esculturas e em bestiários.
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