Disposições políticas no espiritismo brasileiro:
da "neutralidade" conservadora à aspiração socialista
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n42.50928Palavras-chave:
Espiritismo, Política, SocialismoResumo
Neste artigo é examinada a conformação de um discurso de neutralidade, isenção e alheamento político no espiritismo brasileiro, acomodando-o de modo conservador à sociedade capitalista, bem como a produção de um espiritismo à esquerda, minoritário, que abriga ideários socialistas. Embora seja dominante, a disposição conservadora conviveu e confrontou-se com discursos dissonantes de viés progressista, geralmente discretos e moderados, mas, por vezes, expressos em termos mais engajados e radicalizados. Os termos do discurso de neutralidade e alheamento à política incluem a ojeriza às “paixões políticas”, uma concepção individualista e reducionista de moral consagrada numa fórmula despolitizada de “reforma íntima” e a dicotomia sagrado/profano como grade de leitura de mundo. A partir das lentes da classe média, opera ainda a seletividade ideológica quanto àquilo que é aceitável ou não em termos de discurso espírita sobre questões sociais. Já a produção de um discurso espírita à esquerda pode ser entendida sobretudo a partir das áreas de afinidade eletiva ou correspondência estrutural entre o cristianismo e o socialismo, bem como pela origem do espiritismo na França no bojo das relações históricas entre socialistas utópicos e o movimento espiritualista. Destacamos, por fim, o Movimento Universitário Espírita de 1967-1974, pelo claro rompimento com a dicotomia sagrado/profano e consequente adensamento político do ideário socialista no âmbito do espiritismo brasileiro.
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