Corpos ultrajantes, discursos interditos

embates entre a indústria cinematográfica erótica e a censura federal durante a ditadura civil-militar brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n43.54191

Palavras-chave:

Biopoder, Censura, Cinema Erótico, Ditadura Civil-Militar Brasileira, Pornochanchadas

Resumo

O presente texto apresenta a trajetória de embates entre as produções cinematográficas denominadas comumente por pornochanchadas – produções de baixo orçamento, forte apelo humorístico e sexual – e a censura federal durante a ditadura civil-militar brasileira. Vistas muitas vezes como inimigas do discurso público de moral e bons costumes que representava o estado, estas acarretaram, por parte dos sujeitos produtores, o desenvolvimento de estratégias para driblar a censura federal. Ora estas disputas favoreceram produtores, ora censores, mas no foco destes embates encontrava-se quase que invariavelmente a disputa pela hegemonia discursiva e pelo lugar de fala que tinham como palco a grande tela do cinema e sua reconhecida capacidade como ferramenta de propagação de valores culturais e normatização de costumes. Na análise ora apresentada enfoca-se no enredo amplamente conflitante desta pretensa normalidade encontrado no longa-metragem Mulher Tentação (1982) dirigido por Ody Fraga e produzido por David Cardoso.  Para esta análise utiliza-se como aporte teórico os escritos de Michel Foucault, especialmente as suas noções de biopoder, normatividade, controle dos corpos e exercício de poder. Tem-se então o objetivo de evidenciar os múltiplos vetores que conformam poderes e contrapoderes, bem como observar como estas disputas marcam corpos, costumes e culturas.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Romulo Gabriel de Barros Gomes, Universidade Federal de Pernambuco

Romulo Gabriel de Barros Gomes é doutorando e mestre em História pela Universidade Federal de Pernambuco, formado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, com período de Graduação Sanduíche na área de Ciências Políticas, realizada no Centro de Investigación y Docencias Económicas – CIDE (Cidade do México). Trabalha temas referentes às produções culturais em regimes autoritários, com foco em produção cinematográfica, censura e discursos sobre masculinidade.

Referências

ANDRADE, Antônio de; REIMAO, Sandra. Tesouras enferrujadas: a censura ao cinema e à televisão brasileira após o fim do AI-5 até a promulgação da Constituição de 1988. Revista Universitária do Audiovisual, v. 6, p. 1-11, 2009.

BERG, Creuza. Mecanismos do Silêncio: expressões artísticas e censura no regime militar (1964-1984). São Paulo: EdUFSCar, 2002.

CAMPOS, Flávio de. A arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma estória. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

CANNITO, Newton G.; SARAIVA, Leandro R.. Manual de Roteiro. São Paulo: Conrad, 2004.

CAVALCANTI, Leonardo. Estou Anacrônica. Correio Braziliense, Brasília, 25 de abr. de 2010, p. 12.

ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador. Vol. 2: Uma história dos Costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.

FELIZARDO, Cristina Kessler. Erotismo à brasileira: o ciclo da pornochanchada. Sessões do Imaginário, v. 22, 2009.

FERRO, Marc. Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

FICO, Carlos. A negociação parlamentar da anistia de 1979 e o chamado ‘perdão aos torturadores’. Revista anistia política e justiça de transição, Brasília, v. 4, p. 318-333, 2010.

FICO, Carlos. Como eles agiam. Rio de Janeiro: Record, 2001.

FICO, Carlos. “Prezada Censura”: cartas ao regime militar. Topoi , Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 251-286 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/2237-101X003005011

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, Forense Universitária. 1997.

FOUCAULT, Michel. Dits et écrits, des espaces autres. In: Architecture, Mouvement, Continuité, n. 5, outubro, 1984. p. 752-762.

FOUCAULT, Michel. De espaços outros. Estudos avançados, São Paulo, v. 27, n. 79, p. 113-122, 2013 . DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142013000300008

FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231-249.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

GOMES, Romulo Gabriel de Barros. Pornochanchadas: Discursos misóginos na ditadura civil-militar brasileira. Anais do VI Colóquio de História Faces de Cultura na História: 100 Anos de Luiz Gonzaga, 2012, Recife: FASA, 2012. p. 173-178.

GOMES, Romulo Gabriel de Barros. Clube das Infiéis: diálogos entre a produção erótica e identidade masculina no regime civil-militar brasileiro. Contemporâneos: Revista de Artes e Humanidades, v. 1, p. 1-22, 2016.

GOMES, Romulo Gabriel de Barros. Império do desejo e da anarquia: o cinema erótico politicamente engajado de Carlos Reichembach. Contemporâneos: Revista de Artes e Humanidades, v. 1, p. 1-29, 2017.

KOLLONTAI, Alexandra. A Nova Mulher e a Moral Sexual. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2011.

LAGO, Mara Coelho de Souza. Feminismo e psicanálise, ainda... Revista Estudos Feministas, v. 9, n. 2, p. 618-625, 2001. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200020

MOSSE, George. The Image of Man: The Creation of Modern Masculinity. New York: Oxford University Press, 1996. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780195101010.001.0001

SMITH, Anne-Marie. Um acordo forçado: o consentimento da imprensa à censura no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2000.

SILVA, Sandro José de. Desviados nos espaços da urbe: A “topografia” da homossexualidade masculina na cidade do Recife entre os anos de 1970 a 1980. In: I Colóquio Internacional Brasil e Portugal: Nossa História ontem e hoje, 2007, Recife. I Colóquio Internacional Brasil e Portugal: Nossa História ontem e hoje. Recife: EDUFRPE, 2007. v. 01. p. 01-10.

VIEIRA, Rejane. Revolução dos costumes e gênero: Uma análise da transformação dos costumes femininos e a influência da moda nas décadas de 60 e 70 em Florianópolis. 2004. Disponível em: http://www.administradores.com.br/_resources/files/_modules/academics/acad emics_781_20100228182530ffbb.pdf. Acesso em: 04 jun. 2014.

WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e homofobia. Revista Estudos Feministas, v. 9, n. 2, p. 460-482, 2001. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2001000200008

WERNECK VIANNA, Luiz. Revolução passiva e república. In: WERNECK VIANNA, Luiz. A modernização sem o moderno: análises de conjuntura na era Lula. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira/ Rio de Janeiro: Contraponto, 2011. p. 191.

YI, Mi-Kyung. Triste falo: uma imagem da relação mãe-filha. Tempo psicanal. Rio de Janeiro, v. 45, n. 2, p. 367-381, dez. 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382013000200008. Acesso em: 20 nov. 2020.

Downloads

Publicado

2020-11-18

Como Citar

GOMES, R. G. de B. Corpos ultrajantes, discursos interditos: embates entre a indústria cinematográfica erótica e a censura federal durante a ditadura civil-militar brasileira. Sæculum - Revista de História, [S. l.], v. 25, n. 43 (jul./dez.), p. 325–342, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n43.54191. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/srh/article/view/54191. Acesso em: 19 nov. 2024.