Réquiem para uma historiadora negra

morte, invisibilidade e retorno de Beatriz Nascimento

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n43.54350

Palavras-chave:

História das Mulheres, Feminismo Negro, Direitos Humanos

Resumo

O artigo realiza uma abordagem historiográfica (estudo de trajetória) e, à luz dos direitos humanos (feminismo negro), sobre a memória social da historiadora Maria Beatriz Nascimento (1942-1995). A narrativa aborda o evento do assassinato de Beatriz Nascimento no dia 28 de janeiro de 1995, que gerou perplexidade e indignação na comunidade negra e na rede de sociabilidades da historiadora. Dessa “memória fraturada” buscou-se problematizar certa invisibilidade e esquecimento da historiadora na década seguinte, desde 1995, dos 300 Anos do Assassinato de Zumbi dos Palmares, depois a Marcha Zumbi +10 (2005) e a Marcha das Mulheres Negras (2015). Por fim, considerou-se o retorno e o reconhecimento do legado de Beatriz Nascimento tanto pela sua trajetória e experiência negras quanto o apreço pela sua produção acadêmica, cinematográfica e poética a partir da publicação em livro, na última década, de sua obra esparsa por jornais, revistas e coletâneas, desde 1974. O corpus documental desse trabalho baseia-se em acervo digital (imprensa comercial, jornais alternativos, blogs de ativistas, movimentos e entidades negras), portais institucionais da Biblioteca Nacional (Hemeroteca Digital e Acervo Digital), do Arquivo Nacional (Fundo Beatriz Nascimento), do Museu Afro Digital (UERJ-Rio) e da obra publicada da historiadora.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Elio Chaves Flores, Universidade Federal da Paraíba

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade da Região da Campanha (1986), graduação em Estudos Sociais pela Universidade da Região da Campanha (1983), mestrado em Pós-Graduação de História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul (1992) e doutorado em Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (2002). Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba desde 1994.

Referências

ALMADA, Sandra. Damas Negras: sucesso, lutas, discriminação – Chica Xavier, Léa Garcia, Ruth de Souza, Zezé Motta. Rio de Janeiro: Mauad, 1995.

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

BARRETO, Raquel. Introdução. In: NASCIMENTO, Beatriz. Quilombola e Intelectual: possibilidade nos dias da destruição. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas; Editora Filhos da África, 2018, p. 26-39.

BATISTA, Wagner Vinhas. Palavras Sobre uma Historiadora Transatlântica: estudo da trajetória intelectual de Maria Beatriz Nascimento. Tese (Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos). Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos (PÓS-AFRO), Salvador, 2016.

CARNEIRO, Sueli. Mulheres em Movimento. Estudos Avançados, v. 7, n. 49, p. 117-132, 2003.

COLLINS, Patricia Hill. Epistemologia feminista negra. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL, Ramón (Orgs.). Decolonialidade e Pensamento Afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2019, p. 139-170.

CUT – CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES. Marcha das Mulheres Negras 2015. Documentário. 12’16”. Direção: Aline Sasahara. Nov 2015. https://www.cut.org.br/videos/marcha-das-mulheres-negras-2015-b6f9. Acesso em: 12 maio 2020.

GARCIA, Léa. Entrevista. In: ALMADA, Sandra. Damas Negras: sucesso, lutas, discriminação – Chica Xavier, Léa Garcia, Ruth de Souza, Zezé Motta. Rio de Janeiro: Mauad, 1995, p. 73-132.

LEMOS, Rosália. Mulheres Negras: resistência e ação política. In: FLAUZINA, Ana; PIRES, Thula. (Orgs.). Encrespando – Anais do I Seminário Internacional: refletindo a década internacional dos afrodescendentes (ONU, 2015-2024). Brasília: Brado Negro, 2016, p. 125-146.

MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 Edições, 2018a.

MBEMBE, Achille. O Fardo da Raça: entrevistas com Achille Mbembe a Arlette Fargeau e a Catherine Portevin. São Paulo: N-1 Edições, 2018b.

MILLARCH, Aramis. “Orí”, um filme-tese sobre a cultura negra. Estado do Paraná, ALMANAQUE, 09/04/1989, p. 3. Disponível em: https://www.millarch.org/artigo/ori-um-filme-tese-sobre-cultura-negra. Acesso em: 10 maio 2020.

NASCIMENTO, Beatriz. Quilombola e Intelectual: possibilidade nos dias da destruição. São Paulo: União dos Coletivos Pan-Africanistas; Editora Filhos da África, 2018.

NASCIMENTO, Beatriz. É tempo de falarmos de nós mesmos. In: RATTS, Alex. Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa oficial; Instituto Kuanza, 2007, p. 91-129.

NASCIMENTO, Beatriz. A mulher negra e o amor. Jornal Maioria Falante, 17, fev-mar, 1990, p. 3.

NASCIMENTO, Beatriz. Daquilo que se chama cultura. Jornal IDE. No. 12. Sociedade Brasileira de Psicanálise – São Paulo. Dezembro, 1986, p. 8.

NASCIMENTO, Beatriz. O conceito de quilombo e a resistência cultural negra. Afrodiáspora, n. 6, 7, 1985, p. 41-49.

NASCIMENTO, Beatriz. Kilombo e memória comunitária: um estudo de caso. Estudos Afro-Asiáticos, 6-7. Rio de Janeiro, CEAA/UCAM, p. 259-265, 1982a.

NASCIMENTO, Beatriz. Pesquisadora (Depoimento). Tem muita gente obtendo vantagem com o debate da questão racial. In: COSTA, Haroldo. Fala, Crioulo. Rio de Janeiro: Record, 1982b, p. 194-198.

NASCIMENTO, Beatriz. Nossa democracia racial. Revista IstoÉ. 23/11/1977, p. 48-49.

NASCIMENTO, Beatriz; GERBER, Raquel. Ôrí. Documentário. Brasil, 1989, 100 min.

PEREIRA, Amilcar Araujo. O Mundo Negro: relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo no Brasil. Rio de Janeiro: Pallas; FAPERJ, 2013.

RATTS, Alex. A voz que vem do interior: intelectualidade negra e quilombo. BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção; SILVA, Petronilha B. Gonçalves e; SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs.). De Preto a Afro-Descendente: trajetos de pesquisa sobre o negro, cultura negra e relações étnico-raciais no Brasil. São Carlos-SP: EDUFSCAR, 2003, p. 89-108.

RATTS, Alex. Corpo e cabeça nas palavras da historiadora ativista Beatriz Nascimento. Toques D’Angola, Brasília – DF, p. 16-17, 01 nov. 2004.

RATTS, Alex. Trajetórias intelectuais negras: as rotas de Beatriz Nascimento. Revista PUCviva. Ano 7, n. 28, p. 76-81, out./dez. 2006.

RATTS, Alex. Eu Sou Atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo; Instituto Kuanza, 2007.

RATTS, Alex; BARBOSA, Douglas da Silva. Ori: uma abordagem da diáspora e experiência negra em linguagem cinematográfica. In: V Simpósio Internacional do CECAB, 2008, Salvador. Anais do V Simpósio Internacional do CECAB. Salvador: CECAB, 2008.

RATTS, Alex. Encruzilhadas por todo percurso: individualidade e coletividade no movimento negro de base acadêmica. In: PEREIRA, Amauri Mendes; SILVA, Joselina da (Org.). Movimento Negro Brasileiro: escritos sobre os sentidos de democracia e justiça social no Brasil. Belo Horizonte: Nandyala Livros, 2009, p. 81-108.

RATTS, Alex. Trajetórias e lugares de uma mulher negra: a geopoética de Beatriz Nascimento. In: 27a. Reunião Brasileira de Antropologia, 2010, Belém-PA. Anais 27ª RBA. Brasília: Associação Brasileira de Antropologia, 2010, p. 1-15.

RATTS, Alex. Os lugares da gente negra: raça, gênero e espaço no pensamento de Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez. Comunicação apresentada no XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Salvador, 2011.

RATTS, Alex. Entrevista – Bloco I (A questão racial na obra de Beatriz Nascimento e Milton Santos, 10’04”). Bloco II (A negação do negro no Ceará. Cultura, gênero e desigualdade. 10’02”). Bloco III (Feminismo. Lélia Gonzalez. Intersecções: raça, gênero, sexualidade. Feridas públicas, medos privados. 10’57”). Bloco IV (Ler, ver, ouvir. O melhor tempo é hoje. 04’14”). In: O Menelick 2º Ato. Março, 2014. Entrevistadora: Luciane Ramos.

RATTS, Alex. Entre os corpos humanos e celestes: onde ela se sente bem? In: RATTS, Alex; GOMES, Bethânia (Orgs.). Todas (as) distâncias: poemas, aforismos e ensaios de Beatriz Nascimento. São Paulo: Editora Ogum’s Toques Negros, 2015, p. 116-131.

SILVA, Jônatas Conceição da. Vozes Quilombolas: uma poética brasileira. Salvador: EDUFBA; ILÊ AIYÊ, 2004.

SILVA, Sandra Martins da. O GTAR (Grupo de Trabalho André Rebouças) na Universidade Federal Fluminense: memória social, intelectuais negros e universidade pública (1975-1995). 2018. Dissertação (Mestrado em História Comparada). Rio de Janeiro: UFRJ/PPHC, 2018.

Downloads

Publicado

2020-11-18

Como Citar

FLORES, E. C. Réquiem para uma historiadora negra: morte, invisibilidade e retorno de Beatriz Nascimento. Saeculum, [S. l.], v. 25, n. 43 (jul./dez.), p. 380–397, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n43.54350. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/srh/article/view/54350. Acesso em: 25 abr. 2024.