Colonização Negra Americana na Amazônia Brasileira
corpos de cor em movimento
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.2317-6725.2020v25n43.54572Palavras-chave:
Colonização negra, Amazonas, Amalgamação, Diáspora africanaResumo
Na década de 1860, quando os debates pós-emancipação alcançavam significado transnacional, o Brasil e os Estados Unidos eram os únicos países nas Américas onde a escravidão ainda era legal. Enquanto o Brasil era reconhecido como um lugar onde “a cor não é obstáculo para o avanço” (CHRISTIE, 1865, 78), os Estados Unidos testemunhavam o surgimento da crença de que “as raças não podem viver juntas em estado de liberdade” (WEBB, 1853). Diante desse contexto, o encontro fortuito de um artigo do New York Times de 1862 despertou minha curiosidade, pois relatava um projeto de transplante de afro-descendentes dos Estados Unidos para a Amazônia brasileira. Tal projeto permaneceu praticamente ignorado pela historiografia brasileira, a não ser pelo livro publicado por Nícia Vilela Luz em 1968, denunciando as intenções americanas de colonizar a Amazônia. Embora o chamado projeto de “colonização negra” nunca tenha rendido uma proposta oficial ao governo brasileiro, ele ainda merece ser examinado. Defendo que, no atual contexto de trocas e migrações globais, esse evento histórico ganha nova relevância. A intenção de transferir uma categoria inteira da população de um território nacional para outro levanta questões sobre cidadania e soberania nacional. Ao mesmo tempo, abre a oportunidade para uma abordagem transnacional que pode iluminar aspectos das migrações que de outra forma seriam ignorados.
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