"MÃES de Micro": Perspectivas e desdobramentos sobre cuidado no contexto da síndrome congênita do zika vírus (SCZV) em Recife/PE.

Autores

  • Raquel Lustosa da Costa Alves UFPE
  • Yazmin Bheringcer dos Reis Safatle UNB

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2447-9837.2019v1n8.42464

Resumo

Pernambuco foi um dos estados com maior ocorrência da
síndrome congênita do Zika. A síndrome foi associada ao vírus em 2016
e desde seu surgimento tem gerado repercussões em várias esferas do
Brasil contemporâneo. Neste artigo, buscamos compreender como as
mulheres, que se auto afrmam como “mães de micro”, têm lidado com os
efeitos da epidemia em suas vidas. A expressão “mães de micro” é utilizada em referência à microcefalia, condição de boa parte das crianças com a síndrome, e torna-se uma identidade política, acionada também para fns de reivindicação. Juntas, elas se organizam com o apoio de duas ONGs presentes neste contexto. Com o trabalho etnográfco realizado neste cenário foi possível observar alguns elementos que se inter-relacionam nessa temática e que surgem do enfrentamento
cotidiano dessas famílias, compostas majoritariamente por jovens e negras pertencentes às camadas populares de Pernambuco. O cotidiano dessas mulheres, agora traçados por vários itinerários até os centros terapêuticos e clínicas especializadas; pela luta por informação; por direitos e tratamentos para seus/suas flhos/as, reacende o
debate sobre a organização social do cuidado à luz de novas perspectivas que se desenvolvem através de categorias como cansaço e solidão,
constantemente evocadas em suas narrativas. Nesse sentido, provoca-nos
traçar as interfaces que o cenário da SCZV mobiliza no debate sobre cuidado.

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Biografia do Autor

Raquel Lustosa da Costa Alves, UFPE

Estudante do Departamento de Antropologia da UFPE, bacharel em Ciências Sociais com habilitação em Antropologia na UNB (2016), mestranda em Antropologia pela UFPE. Interesse pelos temas de gênero, trabalho, saúde, maternidade e cuidados.

Yazmin Bheringcer dos Reis Safatle, UNB

Estudante de Ciências Sociais, habilitação Antropologia. Tem experiência com educação, trabalhou como professora de idiomas (alemão, francês e inglês) e com tradução. Atualmente as áreas de maior interesse nos estudos e pesquisa acadêmica são identidade social, gênero, saúde e sociedades camponesas.

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Publicado

2019-07-31

Edição

Seção

Dossiê Antropologia com bebês e suas cuidadoras (8ª edição)