Metamorfoseando o ‘dentro’ de casa

a exaustão do conforto e da segurança

Autores

  • Mônica Vilaça Universidade Federal da Paraíba

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2447-9837.2020v1n10.55196

Resumo

            A disseminação da Covid-19 foi declarada pandemia pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020. Com esta nova classificação, os diversos países estabeleceram orientações mais simples, ou complexas, restritivas ou não, com o objetivo de frear a doença. Este processo tem um aspecto comum ancorado no chamado ao distanciamento social que se tem configurado em uma busca coletiva por ‘ficar em casa’. A casa, ou o lar, nunca foi um lugar simples. Atravessado por relações sociais em conflito de gênero, classe e raça que podem ser observados quando pensamos os trabalhos domésticos e de cuidados necessários para a reprodução da vida, invisibilizados e realizados majoritariamente por mulheres, de forma gratuita ou paga. A casa conflituosa também é denunciada agora como privilégio, ficar em casa fala de cidades com problemas absurdos de habitação e acesso a serviços que aprofundam nossas percepções de desigualdades estruturais sempre gritadas. Vemos, em meio à pandemia, chuvas desalojarem famílias de barracos e desocupações forçadas em favelas.

A casa tem muito ruído neste período. Tudo está dentro de casa, os conflitos já existentes e que gritam com mais força, por que para as mulheres este tem sido período de aumento da já existente carga de trabalho, e novos conflitos, o trabalho antes realizado fora da casa deslocou-se para ela. Estar em casa traduz-se por disponibilidade. Uma zoada interminável de reuniões, convites para atividades virtuais, estar em casa torna cada uma e cada um disponível. Ocupar-se, cuidar-se, e a vida em casa acelerando-se para bastar-se. Limpa-se mais, lava-se mais, o uso da casa é contínuo, constante, estamos ‘apenas em casa’. Estamos mais em cada cômodo. O isolamento social reafirma nosso corpo, um corpo que se estende e se constrói nas relações que estabelece, e é este corpo privado e restrito, acelerado e cobrado que precisa enfrentar a exaustão da casa. Este ensaio propõe olhar para este desconforto produzido em uma vivência da casa. No processo de sua elaboração busquei refletir as ações que já compunham a experiência de estar em casa e que hoje assumem novos significados.

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Biografia do Autor

Mônica Vilaça, Universidade Federal da Paraíba

Doutoranda em Sociologia, Programa de pós-graduação em Sociologia da UFPB

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Publicado

2020-09-14