O SOCIOMATERIAL NAS PRÁTICAS ARQUIVÍSTICAS

sob o olhar da pesquisa pós-qualitativa

Autores

  • Patrícia Silva UFPB

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.2318-6186.2020v8n2.52976

Palavras-chave:

Práticas Arquivísticas, Performatividade, Pesquisa Pós-Qualitativa

Resumo

A vida em sociedade demonstra que somos constituídos de vários elementos que nos moldam e nos associam ao mundo. Assim, é necessário estudar perspectivas teóricas que são capazes de destacar o papel desempenhado por uma gama diversificada de atores, configurando-se como uma assembleia de coisas. Contudo, é bastante comum considerar que nas práticas arquivísticas, os humanos são geralmente percebidos de forma hegemônica, cujos objetos/coisas, os documentos arquivísticos, são sempre passivos a ação desses humanos. Tra-se para o debate teórico a performatividade e a pesquisa pós-qualitativa, porque entende-se que os objetos/coisas precisam ser incluídos também na análise de um fenômeno, pois eles compõem o processo pelo qual um dado fenômeno se desdobra. Metodologicamente apresenta-se a pesquisa pós-qualitativa, fundamentada numa visão não-antropocêntrica, desmascarando as maneiras pelas quais estamos enraizados em ideologias humanistas, a investigação pós-qualitativa oferece uma maneira de estar no mundo que se encaixa e pode envolver o emaranhado que o mundo é. Considera-se que os não-humanos podem ser portadores de práticas e possuem performances, assim como os humanos. Nós precisamos mostrar como as coisas que as pessoas fazem, fazem as pessoas a fazer coisas. Não se pretende colocar os objetos/coisas acima dos humanos, nem vice-versa, mas entre esses e reciprocamente. Estes objetos/coisas podem ser usados ​​por nós humanos, mas eles também podem usar os seres humanos e influenciar, mudar uma prática social arquivística, que então não é mais particularmente humana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Patrícia Silva, UFPB

Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Ciência da Informação pela UFPB. Especialista em Gestão Estratégica de Sistemas de Informação pela UFRN. Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba. Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Redes Sociotécncas e culturas Digitais (EDUTEC) (UFBA).

Referências

ALVARENGA, G. L. A Practice Turn nos Estudos Organizacionais Brasileiros: Uma Análise de Publicações entre os Anos 2006 – 2015. Pensamento & Realidade, v. 32, n. 1, p. 93-106, 2017.

BARAD, K. Meeting the universe halfway. Quantum physics and the entanglement of matter and meaning. 2007. Disponível em: https://smartnightreadingroom.files.wordpress.com/2013/05/meeting-the-universe-halfway.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019.

BARAD, K. Posthumanist Performativity: Toward an Understanding of How Matter Comes to Matter. Journal of Women in Culture and Society, v. 28, n. 3, p. 801-831, 2003.

BARNES, B. Practice as collective action. In: SCHATZKI, T. R.; KNOR-CETINA, K.; VON SAVIGNY, E. The Practice Turn in Contemporary Theory. London, New York: Routledge, 2001.

BENNETT, J. Thing-Power. In: BRAUN, B.; WHATMORE, S. J. Political Matter: Technoscience, Democracy, and Public Life. Minnesota: Univerversity of Minnesota Press, 2010a. p. 35-62.

BENNETT, J. Vibrant Matter: A Political Ecology of Things. Carolina do Norte, USA: Duke University Press, 2010b.

BRAUN, B.; WHATMORE, S. J. The Stuff of Politics: An Introduction. In: BRAUN, B.; WHATMORE, S. J. Political Matter: Technoscience, Democracy, and Public Life. Minnesota: Univerversity of Minnesota Press, 2010. p. ix-xl.

BUHL, H.; ANDERSEN, M.; KEROSUO, H. I Work All Day with Automation in Construction: I am a Sociomaterial-Designer. In: NORDIC CONFERENCE ON CONSTRUCTION ECONOMICS AND ORGANIZATION, 10., 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1108/S2516-285320190000002018. Acesso em: 2 jun. 2019.

BUTLER, J. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p.152-172.

CAMPOS, J. F, G. Arquivos pessoais: facetas de um dilema. In: ANDRADE, A. C. N. (Org.). Arquivos, entre tradição e modernidade, volume 2: trabalhos apresentados nas sessões de comunicações livres e os eventos paralelos do XI Congresso de Arquivologia do Mercosul. São Paulo: ARQ-SP, 2017. p. 39-49.

COUTO, E. S. Corpos voláteis, corpos perfeitos: estudos sobre estéticas, pedagogias e políticas do pós-humano. Salvador: Edufba, 2012.

DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs - capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: 34, 1996. V. 3.

FENWICK, T.; EDWARDS, R. Actor-Network Theory in Education. London, New York: Routledge, 2010.

FLORÊNCIO, J. Ecology Without Nature, Theatre Without Culture Towards an Object-Oriented Ontology of Performance. O-Zone: A Journal of Object-Oriented Studies, v. 1, p. 118-127, 2014.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.

FOX, N. J.; ALLDRED, P. Social structures, power and resistance in monist sociology: (new) materialist insights. Journal of Sociology, v. 54, n. 3, p. 315-330, 2018.

GERRARD, J.; RUDOLPH, S.; SRIPRAKASH, A. The Politics of Post-Qualitative Inquiry: History and Power. Qualitative Inquiry, v. 23, n. 5, p. 384–394, 2017.

GREENE, J. C. On rhizomes, lines of flight, mangles, and other Assemblages. International Journal of Qualitative Studies in Education, v. 26, n. 6, p. 749-758, 2013.

GONÇALVES, J. R. S.; BITAR, N. P.; GUIMARÃES, R. S. A alma das coisas: patrimônio, materialidade e ressoanância. Rio de Janeiro: Mauad X, 2013.

HARAWAY, D. Manifesto ciborgue Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: HARAWAY, D.; KUNZRU, H.; TADEU, T. (Org.) Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós‐humano. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 33-118.

HATTON, N. A Tale of Two Pianos: Actants, Sociability, and Form in Jane Austen’s Emma. Open Cultural Studies, v. 3, p. 135-147, 2019.

KNORR-CETINA, K. Objectual practice. In: SCHATZKI, T. R.; KNORR-CETINA, K.; VON SAVIGNY, E. (Ed.). The practice turn in contemporary. London: Routledge, 2001. p. 184-197.

LATHER, P.; ST. PIERRE, E. A. Post-qualitative research. International Journal of Qualitative Studies in Education, v. 26, n. 6, p. 629-633, 2013.

LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Rio de Janeiro: 34, 1994.

LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do Ator-rede. Salvador: Edufba, 2012.

LAW, J. Notes on the Theory of the Actor-Network: Ordering, Strategy and Hetereneity, Systems Practice, v. 5, p. 379-93, 1992.

LEMOS, A. A comunicação das Coisas. Internet das Coisas e Teoria Ator-Rede. Etiquetas de Radiofrequência em Uniformes Escolares na Bahia. 2012. Disponível em: http://docplayer.com.br/659634-A-comunicacao-das-coisas-internet-das-coisas-e-teoria-ator-rede.html. Acesso em: 15 fev. 2017.

LE BRETON, D. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. Campinas: Papirus, 2003.

LE GRANGE, L. What is (post)qualitative research? South African Journal of Higher Education, v. 32, n. 5, p. 1-14, 2018.

LUPTON, D. Personal Data Practices in the Age of Lively Data. 2015. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2636709. Acesso em: 10 jun. 2019.

MAZZEI, L. A. A voice without organs: interviewing in posthumanist research. International Journal of Qualitative Studies in Education, v. 26, n. 6, p. 732-740, 2013.

MOL, A. The Body Multiple: Ontology in MedicalPractice. London, Duke University Press, 2002. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4621896/mod_resource/content/2/MOL%2C%20Annemarie.%20The%20body%20multiple.pdf. Acesso em: 15 dez. 2019.

MOL, A. Política ontológica: algumas ideias e várias perguntas. 2008. Disponível em: https://pure.uva.nl/ws/files/899834/77537_310751.pdf. Acesso em: 8 jan. 2018.

MOURA, R. L.; DINIZ, B. D. Analisando projetos através das práticas: um ensaio teórico. Revista de Gestão e Projetos – GeP, v. 7, n. 2. p. 34-41, 2016.

MOURA, L. E.; VAISMAN, P. S. Exposição: um instrumento para difusão cultural de acervos arquivísticos. In: ANDRADE, A. C. N. (Org.). Arquivos, entre tradição e modernidade, volume 2: trabalhos apresentados nas sessões de comunicações livres e os eventos paralelos do XI Congresso de Arquivologia do Mercosul. São Paulo: ARQ-SP, 2017. p. 138-150.

PENNYCOOK, A. Posthumanist Applied Linguistics. Applied Linguistics, v. 39, n. 4, p. 445–461, 2018.

PICKERING, A. Living in the material world. In: VAUJANY, FX; MITEV, N. (Eds.). Materiality and Space: organizations, artefacts and practices., London: Palgrave Macmillan, 2013. p. 25-40.

PICKERING, A. Practice and post-humanism: social theory and a history of agency. In: SCHATZKI, T. R.; KNORR-CETINA, K.; VON SAVIGNY, E. (Ed.). The practice turn in contemporary. London: Routledge, 2001. p. 172-183.

POSTMA, D. Education as sociomaterial critique. Pedagogy, Culture Society, v. 20, n.1, p. 137-156, 2012.

RODRIGUES, A. C. Diplomática contemporânea como fundamento metodológico da identificação da tipologia documental em arquivos. 2008. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade de São Paulo, 2008.

ROSSATO, F. H. C.; FLORES, D. O documento arquivístico: reflexões acerca do patrimônio cultural. ScientiaTec: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia do IFRS-Campus Porto Alegre, Porto Alegre, v.2 n.3, p. 35-47, jul/dez. 2015.

SCHATZKI, T. R. Introduction: practice theory. In: SCHATZKI, T. R.; KNORR-CETINA, K; VON SAVIGNY, E. (Ed.). The practice turn in contemporary. London: Routledge, 2001a.

SCHATZKI, T. R. Practice mind-ed orders. In: SCHATZKI, T. R.; KNORR-CETINA, K; VON SAVIGNY, E (Ed.). The practice turn in contemporary. London: Routledge, 2001b. p. 50-63.

SCHLOSSER, M. Agency. 2015. Disponível em: https://plato.stanford.edu/archives/fall2015/entries/agency/. Acesso em: 10 fev. 2018.

SØRENSEN, E. The Materiality of Learning: Technology and Knowledge in Educational Practice. Cambridge University Press, 2009.

ST. PIERRE, E. A. Uma história breve e pessoal da pesquisa pós-qualitativa: em direção à “pós-investigação”. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 13, n. 3, p. 1044-1064, set./dez. 2018b. Disponível em: https://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa. Acesso em: 5 jan. 2019.

ST. PIERRE, E. A. Writing Post Qualitative Inquiry. Qualitative Inquiry, v. 24, n. 9, p. 603–608, 2018a.

TAYLOR, C. A. Is a posthumanist Bildung possible? Reclaiming the promise of Bildung for contemporary higher education, Higher Education, v. 74, n. 3, p. 419-435, 2017.

ULMER, J. B. Posthumanism as research methodology: inquiry in the Anthropocene. International Journal of Qualitative Studies in Education, 2017. Disponível em: http://www.ufrpe.br/sites/www.ufrpe.br/files/ulmer_2017._posthumanism_as_research.pdf. Acesso em: 4 out. 2019.

WALTZ, S. B. Nonhumans Unbound: Actor-Network Theory and the Reconsideration of “Things” in Educational Foundations. Educational Foundations, v. 20, n. 3-4, p. 51-68, 2006.

Downloads

Publicado

28-12-2020

Como Citar

SILVA, P. . O SOCIOMATERIAL NAS PRÁTICAS ARQUIVÍSTICAS: sob o olhar da pesquisa pós-qualitativa. Archeion Online, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 4–18, 2020. DOI: 10.22478/ufpb.2318-6186.2020v8n2.52976. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/archeion/article/view/52976. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigo de Revisão