O sujeito-grupo trans como ficção estético-política viva: da lógica da identidade à relacionalidade e à politicidade fundantes

Autores

  • Leno Francisco Danner Universidade Federal de Rondônia

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.v7iesp.55468

Palavras-chave:

Corpo Trans, Ficção Estético-Política, Parlamento dos Corpos, Politização, Desnaturalização, Fascismo

Resumo

Refletiremos no texto sobre a ideia do sujeito-grupo trans como ficção estético-política viva que se assume como perspectiva antifascista e antitotalitária a partir do enfrentamento da lógica da identidade pré-política, pré-cultural e a-histórica que embasa a compreensão fascista-colonialista-racista-heteronormativa de sociedade-cultura-antropologia, afirmando, por meio da voz-práxis trans em sua cruzada antifascista e antitotalitária, a relacionalidade e a politicidade fundantes dessa mesma sociedade-cultura-antropologia. Nesse sentido, desenvolveremos alguns argumentos básicos, caudatários dessa dinâmica própria ao pensamento-práxis trans: (a) as minorias político-culturais – o/a trans, o gay, o/a negro/a, o/a índio/a, a mulher – são construções sociais, historicamente localizadas e politicamente realizadas, não tendo uma constituição pré-política, pré-cultural e a-histórica; (b) eles são caudatários, na cultura ocidental, da correlação de fascismo-colonialismo-racismo-sexualidade compulsória e servem de base para a justificação dos processos de normalização e, assim, de apoliticidade-despolitização próprios ao totalitarismo e seu núcleo básico, o medo, o estigma e a morte que nutrem a hegemonia pública do fascismo; (c) as minorias político-culturais na esfera pública instituem uma perspectiva de descolonização da cultura e de descatequização da mente por meio da entabulação de uma voz-práxis direta, carnal, vinculada, política e politizante, em que suas singularidades e sua condição de menoridade (a violência vivida e sofrida como sujeito-grupo-condição antinatural, moralmente decaído) serve como aguilhão crítico e politizador do fascismo-colonialismo-racismo-heteronormatividade e como utopia ética de um mundo novo e de um novo ser humano; e, com isso, (d) a centralidade, para a democracia, do lugar de fala das e pelas minorias político-culturais que, por meio de suas cores, sexos, gêneros, histórias e experiências, constituem-se como voz-práxis antifascista e antitotalitária que impulsiona a democracia, o pluralismo, os direitos humanos e a política enquanto eixos estruturantes dessa mesma democracia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Leno Francisco Danner, Universidade Federal de Rondônia

Doutor em Filosofia (PUC_RS). Professor de Filosofia e de Sociologia no Departamento de Filosofia da Fundação Universidade Federal de Rondônia.

Referências

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Record, 2003.

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Prefácio de Mário de Andrade. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1978.

DARWIN, Charles. A origem do homem e a evolução social. São Paulo: Hemus, 1974.

DAVIES, Angela. Mujeres, raza y clase. Madrid: Ediciones Akal, 2004.

DESPENTES, Virginie. “Prólogo”, p. 09-15. In: PRECIADO, Paul Beatriz. Un apartamento en urano. Barcelona: Editorial Anagrama, 2019.

DUSSEL, Enrique. 1492, o encobrimento do outro: a origem do mito da modernidade. Petrópolis: Vozes, 1993.

ESBELL, Jaider. Jaider Esbell. Organização de Kaká Werá. Coordenação editorial de Sergio Cohn e de Idjahure Kadiwel. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2018 (Coleção Tembetá).

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Prefácio de Jean-Paul Sartre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: Editora da UFBA, 2008.

HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo: racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

hooks, bell. Olhares negros, raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Encontros. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2015.

MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

MUNDURUKU, Daniel. Memórias de índio: uma quase autobiografia. Porto Alegre: EDELBRA, 2016.

MUNDURUKU, Daniel. Daniel Munduruku. Organização de Sérgio Cohn e Idjahure Kadiwel. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2018.

OLIVEIRA, Megg Rayara Gomes de. O diabo em forma de gente: (r)existências de gays afeminados, viados e bichas pretas na educação. Tese de Doutorado em Educação. Curitiba: UFPR, 2017, 192 p.

POTIGUARA, Eliane. Metade cara, metade máscara. Lorena: DM Projetos Especiais, 2018.

PRECIADO, Paul Beatriz. Un apartamento en urano. Prólogo de Virginie Despentes. Barcelona: Editorial Anagrama, 2019.

QUIJANO, Aníbal. “Colonialidad y modernidad/racionalidade”, Perú Indígena, vol. 13, nº. 29, p. 11-20, 1992.

QUIJANO, Aníbal. “Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina”, p. 117-142. In: CLACSO. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Pólen Livros, 2019.

RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

WEBER, Max. Ensayos sobre sociología de la religión (T. I). Madrid: Taurus, 1984.

WERÁ, Kaká. Kaká Werá. Organização editorial de Kaká Werá. Coordenação de Sergio Cohn e de Idjahure Kadiwel. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2017.

Arquivos adicionais

Publicado

2020-09-25

Como Citar

Danner, L. F. (2020). O sujeito-grupo trans como ficção estético-política viva: da lógica da identidade à relacionalidade e à politicidade fundantes. Aufklärung: Revista De Filosofia, 7(esp), p.93–124. https://doi.org/10.18012/arf.v7iesp.55468

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)