ESSE OUTRO QUE INCOMODA:
O FARDO DO ANTHROPOS MODERNO
DOI:
https://doi.org/10.7443/problemata.v14i2.66624Palavras-chave:
Contracolonial, Etnocídio, Humanidade, Modernidade, MemóriaResumo
Este artigo problematiza a noção de anthropos formado na modernidade como modelo universal de humanidade. Assim, o questionamento principal é como a consolidação desse universal acontece ao negar as constituições existenciais e culturais do Outro. Uma dessas negações direciona-se para a memória ancestral, tanto que no primeiro momento tratamos essa negação como alicerce do projeto moderno no sentido de exterminar as potencialidades de outras maneiras de compartilhar a vivência no mundo. Com base nesse cenário, buscamos elucidar as estratégias de dominação do discurso colonial pela “ação colonial de extermínio da memória” em um diálogo com bell hooks (2017) e Saidiya Hartman (2021). Em seguida, a análise dessas estratégias concentra-se na violência colonial que instrumentaliza a “boca” (KILOMBA, 2019) para silenciar as pessoas colonizadas e posicioná-las como subjetividades subalternizadas. Mas também propomos a revitalização da memória ao fazer uso do conceito de “transfluência” de Antônio Bispo dos Santos (2019) em articulação com o de “opacidade” de Edouard Glissant (2021). Essa articulação visa superar essa ação de dominação hegemônica que impõe ao Outro o apagamento de sua memória ancestral. Enfim, entendemos que essa re-vitalização produz resistência ao maquinário de destruição colonial, estabelecendo uma oportunidade de gerar um conhecimento fora das terminologias hierarquizantes e dominantes do anthropos.
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