A DESCONSTRUÇÃO DO SER-MÃE
O CORPO SEM ÓRGÃOS FEMININO E A DESROMANTIZAÇÃO DA MATERNIDADE NO IMPROVISO "DARLUZ", DE MARCELINO FREIRE
Parole chiave:
Literatura Brasileira, Maternidade, Corpo Feminino, Darluz, Marcelino FreireAbstract
Uma das funções sociais, justificada por questões biológicas, que ainda é designada à mulher, é ser mãe, de maneira que muito se associa a completude do ser-mulher à maternidade, ou seja, ser mulher por inteiro está relacionado à gestação e a uma espécie de “condição eterna” da maternidade. Tendo isso em vista, o presente trabalho visa analisar a desconstrução do sentimento materno proveniente de uma romantização configurada em torno da maternidade, no improviso “Darluz”, de Marcelino Freire, presente no livro BaléRalé (2003). A personagem que narra descaracteriza a construção social da relação de maternidade, evidenciando a pouca relevância que dá à responsabilidade a qual lhe é designada e a ausência de amor por seus filhos, pelo simples fato de não os enxergar como seus. Ela gera e seu parto é para os outros. Assim, considerando o conceito de corpo sem órgãos (DELEUZE; GUATTARI, 1997), vê-se, no texto freiriano, como o corpo feminino estilhaça uma hierarquia funcional dos órgãos, causando o abalo daquilo que é predeterminado por instâncias controladoras (LOURO, 2008), as quais incidem sobre a mulher e seu corpo e se potencializam, sobretudo, pela condição de subalternidade.