Outros ecos da crítica: cultura e imperialismo em Edward Said

Autores

  • Jeverton Soares dos Santos Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul( PUCRS)

DOI:

https://doi.org/10.18012/arf.2016.32328

Palavras-chave:

Teoria Crítica, Pós-Colonialismo, Imperialismo

Resumo

A partir de um insight da mais recente obra da filósofa Amy Allen, “End of Progress” ( 2016) o presente artigo busca levar a cabo o projeto em aberto de (re)aproximação da Teoria Crítica com a linha de pensamento conhecida como Pós-Colonialismo, a partir das contribuições seminais do pensador palestino Edward Said, sobretudo mediante as suas reflexões sobre o vínculo entre cultura e imperialismo, presentes nas obras “Orientalism”(1978) e “Culture and Imperialism”(1993). Para isso, foi necessário expor o que Amy Allen compreende pelo termo teoria crítica, resgatando a sua denúncia contra a “mainstream” da teoria crítica contemporânea (especialmente, Habermas e Honneth), que na sua acurada interpretação teria recaído em um déficit pós-colonial inaceitável, em virtude da excessiva influência de Hegel e dos jovens hegelianos, sobretudo na reconciliação apressada que tal mainstream faz entre a noção de progresso histórico e de história empírica. Tal falha não acontece, por exemplo, na teoria crítica da Escola de Frankfurt, sobretudo em Adorno e em Benjamin, ainda que a autora não deixe de reconhecer que tais bases eurocêntricas também estão presentes nela (Seção 1). Contudo, é justamente a partir da noção de “eco das vozes que emudeceram”, de Benjamin, que se procurou executar uma aproximação com o pensamento de Said, o qual também usa categoria análoga, de “outros ecos que habitam o jardim”, inspirada no poeta Eliot (Seção 2). Mais do que isso: o artigo se esforça em trazer a tona alguns dos principais motivos do pensamento saidiano, como a caracterização do fenômeno cultural intitulado “orientalismo”, bem como suas reflexões sobre o drama palestino (Seção 3). Tais seções acabam por preparar caminho para explicitar o que autor entende como sendo o “imperialismo” (Seção 4). Essa noção, amplamente presente nas diferentes manifestações da experiência cultural moderna, pode nos ajudar a compreender melhor o vínculo existente entre cultura e política, vínculo esse que, como se verá ao decorrer do artigo, foi deliberadamente negligenciado pela teoria crítica contemporânea. 

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Biografia do Autor

Jeverton Soares dos Santos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul( PUCRS)

Doutorando em Filosofia na PUCRS, com bolsa CAPES.  Mestre em Filosofia pela PUCRS (2015), graduado (2013) e licenciado em Filosofia(2016) pela PUCRS. E-mail: jevertonsoares@hotmail.com.

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Arquivos adicionais

Publicado

2017-04-30

Como Citar

dos Santos, J. S. (2017). Outros ecos da crítica: cultura e imperialismo em Edward Said. Aufklärung: Revista De Filosofia, 4(1), p.69–90. https://doi.org/10.18012/arf.2016.32328