Espiritualidade e idealismo : Kant e o objeto da filosofia
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.v7iesp.56736Palavras-chave:
Kant, idealidade, conhecimento objetivo, transcendente, transcendentalResumo
Em seu sentido mais geral, o conceito de espiritualidade envolve dois componentes básicos: de um lado, a compreensão de que, para além da dimensão material do mundo da experiência, é possível o acesso a um mundo de significados transcendentes, no qual poderíamos encontrar o sentido real das coisas e mesmo do próprio mundo material, de outro, a certeza de que a experiência vivenciada nesse acesso é incomunicável. Em sua análise epistemológica de nosso acesso ao mundo, Kant estabelece que todo conhecimento possível aos seres humanos está restrito ao mundo dos objetos dados na experiência sob as condições das faculdades subjetivas responsáveis pelo conhecimento objetivo. Assim, não é possível o acesso a um mundo de objetos transcendentes, nem ao significado “real” ou “em si” das coisas, mas apenas às coisas da forma como elas podem aparecer a nós sob as condições da experiência possível. Por outro lado, a garantia de que nossas faculdades subjetivas são suficientes para a legitimidade desse conhecimento objetivo somente é possível por uma demonstração (transcendental) do caráter intersubjetivo de suas representações fundamentais (a priori e objetivamente válidas) na medida em que elas constituem a forma necessária da unidade da consciência representada na proposição “eu penso”. Isto é, na medida em que a validade objetiva dessas representações deve poder ser compartilhada por toda consciência capaz de se representar na proposição “eu penso”. Dessa forma, para Kant, a demonstração da legitimidade das representações desse sujeito está irredutivelmente vinculada à possibilidade da dimensão intersubjetiva do conhecimento e, assim, da comunicabilidade entre os sujeitos que conhecem. Essa dupla exigência da teoria kantiana da objetividade coloca a epistemologia de Kant em confronto direto com o conceito de espiritualidade configurado nesses termos gerais e sugere que não há espaço para uma dimensão da espiritualidade no âmbito de seu idealismo transcendental. Neste artigo examinamos como o projeto transcendental de Kant lida com esses requisitos do conceito de espiritualidade e do transcendente.
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