A figura do ser-Outro em Merleau-Ponty: uma alternativa à concepção foucaultiana do Outro como “pensamento do Mesmo”
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.v10i1.62712Palavras-chave:
outridade, pensamento do Mesmo, linguagem, expressãoResumo
Neste artigo, proponho extrair duas considerações a propósito da noção ontológica do ser bruto, presente na filosofia tardia de Maurice Merleau-Ponty: (i) que a referida noção pode ser compreendida segundo a irredutibilidade do Ser aos nossos instrumentos linguísticos e, nesse sentido, consiste num ser-Outro que, em estado bruto e permanentemente selvagem, jamais se deixa encerrar no domínio da palavra; (ii) assentindo-se que o “suporte último de todas as coisas” inelutavelmente se perfaz como outridade daquilo que se nos manifesta fenomenalmente, restando apenas um acesso indireto ao Absolto considerado de modo não substancial, sugerimos a ilação de que tal acesso alusivo não pode se restringir ao regime verbal, dado que qualquer via que nos direcione nesse sentido da ontogênese sempre carece de preeminência e, por isso mesmo, torna-se incoerente pressupor e anuir com um privilégio da palavra. Asseveramos, assim, que as vias expressivas não verbais devem poder encaminhar (cada uma a sua maneira) certo contato com o ser-Outro. Procuraremos situar as interpretações de alguns especialistas na filosofia de Merleau-Ponty sobre este ponto, assim como introduziremos brevemente um possível enquadramento desta filosofia segundo a análise dos discursos modernos realizados por Michel Foucault, com a intenção de oferecer uma alternativa à interpretação da noção de ser bruto como mais uma figura do pensamento do Mesmo, reafirmando assim a alteridade radical do ser-Outro que prefigura, cremos nós, na ontologia tardia de nosso autor.
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Referências
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