Uma comunidade terapêutica para mulheres: corpos dóceis ou nada mais?
Palavras-chave:
Gênero, Toxicodependência, Saúde Mental, Saúde Pública, Abordagem de Tratamento Multidisciplinar, Reforma PsiquiátricaResumo
O presente artigo é parte da dissertação de mestrado “Um Psicólogo na Atenção em Saúde de Mulheres em Uso Abusivo de Drogas: Uma Perspectiva Etnográfica”. Partiu-se do questionamento acerca dos papéis desempenhados por dispositivos de atenção não governamental destinados a mulheres em uso abusivo de drogas: a quem tais instituições servem, a quem ou ao que realmente visam atender? Apoiando-se nas hipóteses de que as mulheres que se propõem a tratamentos em uma Comunidade Terapêutica, tendem a não o fazer por desejo próprio, mas em atendimento à Instituições diversas, da Família ao Estado. O estudo caracteriza-se com qualitativo exploratório, de caráter etnográfico. O fazer etnográfico encontra-se na possibilidade de estranhamentos como via de acesso ao potencial esclarecedor (Magnani, 2009) e se dá por meio de um olhar de perto e de dentro (Magnani, 2002), em uma extensiva convivência (Sato & Souza, 2001). A discussão foi baseada na genealogia de poder presente na obra de Foucault (2006) e de estudiosos dessa. A partir desta análise, infere-se que as mulheres continuam, demasiadamente, sendo socialmente atreladas a papéis sociais de mãe, esposa, responsável, dona de casa, cuidadora da família e do lar, o que se intensifica na situação de abuso de drogas. Portanto, compreende-se que um dispositivo advindo das lógicas reformistas no intento de superação da lógica manicomial, mas que acaba por repetir tais práticas, corrobora contundentemente para o categórico e acelerado movimento de retrocessos já presentes no campo da saúde pública, principalmente no concernente da saúde mental.