“¿O que um pé consegue fazer em um sapato apertado?” Movimento como estratégia decolonial em Song of the Water Saints, de Nelly Rosario
Resumo
Enquanto os diferentes processos de colonização estão limitados a determinados tempos históricos, a colonialidade, isto é, a lógica que une os diferentes colonialismos, persiste através dos séculos. Proclama a universalidade do pensamento ocidental ao mesmo tempo em que desumaniza os corpos de pessoas não-brancas e tenta obliterar culturas. Por outro lado, a atitude decolonial, uma reação a formas diversas de colonialidade/modernidade propõe alternativas aos modelos eurocêntricos, descortinando e legitimando outros modos de ser e de entender o mundo. Nosso objetivo aqui é nos desprendermos de uma episteme – situada exclusivamente na mente – baseada em parâmetros coloniais e nos alinharmos a uma episteme – situada no corpo – baseada principalmente no deslocamento forçado de seres humanos através dos séculos. Colocando em foco a literatura contemporânea de expressão inglesa produzida por artistas que também buscam opções à colonialidade/ modernidade, usamos o conceito de tidalectics desenvolvido pelo poeta Kamau Brathwaite em nossa leitura de Song of the Water Saints (2002), de Nelly Rosario, autora dominicana radicada nos EUA. Ainda que seguindo um gênero literário ocidental tradicional ao escrever um romance, Rosário contesta e transgride os moldes do gênero, ao utilizar o movimento, fio condutor da narrativa, como uma estratégia decolonial.