Stella do Patrocínio e seus falatórios insurgentes
Resumo
Stella do Patrocínio foi uma mulher negra, poeta, considerada louca e aprisionada em um hospital psiquiátrico aos 21 anos de idade. Patrocínio permaneceu por trinta anos encarcerada no contexto asilar, onde conseguiu elaborar falatórios poéticos que posteriormente foram gravados, transcritos e publicados no livro póstumo “Reino dos bichos e dos animais é o meu nome” (2001). O artigo em questão tem como objetivo problematizar os falatórios de Stella do Patrocínio, nesta obra específica, a partir do diálogo com epistemologias feministas, principalmente decorrentes dos feminismos negro e decolonial. Foi possível traçar um debate teórico-afetivo interseccional que permitiu evidenciar a articulação entre o sistema manicomial e o sistema sexo-gênero colonial, bem como refletir sobre o estatuto ontológico que torna determinados corpos, como o de Stella, abjetos e não passíveis de luto. Mesmo encarcerada, Stella transformou os silêncios manicomiais em linguagem e ação, nos permitindo ver vias de resistência às opressões que ecoam na atualidade.