A saúde da mulher e a Nova Caderneta da gestante: um palco de interações e disputas na implementação de políticas públicas do/no corpo da mulher
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1807-8214.2023v36n1.66581Palavras-chave:
Saúde da Mulher, Corpo e Gênero, Humanização do nascer, MaternidadeResumo
Um grande palco de tensões e contestações está ocorrendo desde a extinção da política pública do Rede Cegonha (2011), que ocorreu no mês de abril de 2022 e a implementação de sua substituta, a Rede de Atenção Materno Infantil (RAMI). A primeira medida tomada pela RAMI foi o lançamento de uma Nova Caderneta da Gestante, em maio de 2022, documento considerado preocupante e retrógrado para pesquisadores e profissionais da saúde que se preocupam com a assistência humanizada. O objetivo deste estudo esteve focado em analisar se a Nova Caderneta está ou não alinhada um dos principais pilares da saúde que é a humanização do nascer a partir da perspectiva do protagonismo feminino. Para isso, foi realizada a análise da antiga (2011) e da nova caderneta (2022), buscando entender as características e especificidades de cada uma. Também recorremos a netnografia para entender as interações realizadas na rede social Instagram, por profissionais e pesquisadores da área da saúde que se posicionavam contra a implementação da RAMI e da Nova Caderneta. Os dados das cadernetas foram triangulados a partir de documentos do Ministério da Saúde e de órgãos internacionais que deveriam ser tomados como parâmetro na criação destas políticas. Autores que refletem sobre a sociologia do corpo e corporeidade foram utilizados a fim de compreendermos as concepções sociais dos corpos grávidos e a relação com saúde. Os resultados indicaram que a Nova Caderneta não está alinhada aos pilares da assistência humanizada, tirando o protagonismo feminino e o direito de a mulher Ser protagonista da sua saúde e bem estar. Além do mais, difunde e incentiva práticas obstétricas, antes rotineiras, mas que atualmente se mostraram sem nenhuma evidência científica. Por isso a importância de pensar a implementação de políticas públicas que respeitem a diversidade e a multiplicidade dos corpos e sejam inclusivas.