A tradicionalidade do agricultor familiar do cerrado piauiense

Autores

  • Antonio Joaquim da Silva Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI
  • Maria do Socorro Lira Monteiro Universidade Federal do Piauí
  • Eriosvaldo Lima Barbosa Universidade Federal do Piauí

DOI:

https://doi.org/10.22478/ufpb.1981-1268.2017v11n2.35016

Resumo

O desenvolvimento do agronegócio no cerrado piauiense é um fenômeno recente da história agrário/agrícola do Brasil. Esse movimento de expansão da fronteira agropecuária tem repercutido em intensas alterações nas paisagens e nos modos de vida rurais, os quais incluem saberes, práticas e conhecimentos baseados nas estratégias econômicas, sociais, culturais e ambientais de sobrevivência das populações das localidades. Nessa perspectiva, ressalta-se que este artigo pretende analisar a situação dos modos de vida dos agricultores familiares do cerrado piauiense, na medida em que este ator social se insere no mundo globalizado conservando limites que permitem a manutenção de sua etnicidade, por meio da tradição e cultura. O estudo elegeu Uruçuí, município localizado no bioma Cerrado e que se destaca por ser pioneiro em abrigar empresas de agronegócios no Piauí e por oferecer a infraestrutura necessária para o agronegócio modernizar as áreas de chapadas, visando a produção de exportáveis. Esta pesquisa qualiquantitativa tem natureza descritiva/explicativa, embasada no método etnogeográfico, o qual foi subsidiado por observações sistemáticas, formulários e entrevistas semiestruturados com 254 agricultores familiares, com vistas a conhecer saberes, objetos e práticas de trabalho agrícola, códigos de interconhecimento, relações culturais e identidade. Concluiu-se que os modos de vida dos agricultores familiares denotavam uma ciência do equilíbrio carregada de valores simbólicos e marcada por um patrimônio de saberes, conhecimentos, experiências e técnicas tradicionais que se ajustava precariamente às tecnologias modernas. E que as relações de reciprocidade não foram diluídas com a chegada do agronegócio, tampouco a produção agropecuária desprezava as linguagens de matriz camponesa.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Antonio Joaquim da Silva, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI

Professor Doutor do IFPI/Campus Teresina Central

Maria do Socorro Lira Monteiro, Universidade Federal do Piauí

Professora Doutora do Departamento de Ciências Econômicas/CCHL/UFPI

Eriosvaldo Lima Barbosa, Universidade Federal do Piauí

Professor Dr. do Departamento de Planejamento e Política Agrária/CCA/UFPI

Referências

Abramovay, R. 2007. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 3. ed. São Paulo: Edusp, 296 p.

Alves, A. P. A. F. 2015. Comunidade enquanto espaço de múltiplas ações e percepções: o caso de uma comunidade quilombola em Ponta Grossa e a questão fundiária. Boletim de Geografia, 33(número especial): 43-60.

Andrade, M. C. de. 1979. O processo de ocupação do espaço regional do Nordeste. 2. ed. Recife: Sudene, pp. 37-52.

Bourdieu, P. 1988. La distinción: critério y bases sociales del gusto. Madri: Taurus, 792 p.

______. 1991. El sentido práctico. Madri: Taurus, 223 p.

Brandão, C. R. 2007. Tempos e espaços nos mundos rurais do Brasil. Ruris, 1(1): 37-64.

FUNDAÇÃO CENTRO DE PESQUISAS ECONÔMICAS E SOCIAIS DO PIAUÍ – CEPRO. 2015. Produto Interno Bruto Municipal do Piauí 2012. Teresina: CEPRO. Disponível em: http://www.cepro.pi.gov.br/download/201502/CEPRO25_80c33d7487.pdf. Acesso em 26 de março de 2017.

Chayanov, A. V. 1974. La organización de la unidad económica campesina. Buenos Aires, Argentina: Ediciones Nueva Visión, 339 p.

Claval, P. 2002. Campo e perspectivas da geografia cultural. In: Corrêa, R. L.; Rosendahl, Z. (Orgs.). Geografia cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Eduerj, pp. 133-186.

Deleuze, G. 2001. Empirismo e subjetividade: ensaio sobre a natureza humana segundo Home. São Paulo: Edições 34, 153 p.

Escobar, A. 2000. El lugar de la naturaleza y la naturaleza del lugar. ¿globalización o postdesarrollo? In: Lander, E. La colonialidad del saber: eucocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), pp. 68-87.

______. 2014. Sentipensar con la tierra: nuevas lecturas sobre desarrollo, territorio y diferencia. Medellín: Ediciones Unaula, 184 p.

Feldman, M.; Laland, K. N. 1996. Gene-culture coevolutionary theory. Trends in ecology & evolution, 11(11): 453-457.

Fernandes, H. R. 1992. Violência e modos de vida: “os justiceiros”. Revista Tempo Social, 4(1-2): 43-52.

Giddens, A. 1991. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora Unesp, 198 p.

Haesbaert, R. 2006. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In: Castro, I. E.; Gomes, P. C. da C.; Corrêa, R. L. (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, pp. 165-205.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. 2010. Censo demográfico 2010 (Piauí): características da população e dos domicílios. Resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/. Acesso em 12 de abril de 2017.

______. 2015. Histórico de Uruçuí. Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun. Acesso em 15 de abril de 2017.

INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA – INCRA. 2013. Estrutura fundiária do Piauí por município. Teresina: INCRA (Superintendência regional do Piauí - SR 24), n/p.

Jiménez, A. B. 2009. La escuela rural española ante un contexto en transformación. Revista Educación, s/i(350): 449-461.

Kirschbaum, C. 2013. Decisões entre pesquisas quali e quanti sob a perspectiva de mecanismos causais. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 28(82): 179-257.

Leff, E. 2009. Ecologia, capital e cultura: a territorialização da racionalidade ambiental. Petrópolis: Vozes, 440 p.

Lênin, V. I. 1982. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: o processo de formação do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 402 p.

Lobo, E. S. 1992. Caminhos da sociologia no Brasil: modos de vida e experiência. Revista Tempo Social, 4(1-2): 7-15.

Lopes, J. R. B. 2008. Do latifúndio à empresa: unidade e diversidade do capitalismo no campo. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 50 p.

MacIntryre, A. 1984. After virtue: a study in moral theory. Indiana: University of Notre Dame Press, 304 p.

Mendras, H. 1978. Sociedades camponesas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 265 p.

Moraes, M. D. C. 2003. Falas da experiência feminina: memória, narrativa e trajetória de mulheres camponesas nos cerrados piauienses. Raízes, 22(1): 30-45.

______. 2009. Um povo do cerrado entre baixões e chapadas: modo de vida e crise ecológica de camponeses(as) nos cerrados do sudoeste piauiense. In: Godoi, E. P. de; Menezes, M. A. de; Marin, R. A. (Orgs.). Diversidade do campesinato: expressões e categorias. v. 2 (estratégias de reprodução social). São Paulo: Unesp; Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, pp. 131-161.

Muñoz, M. G. 2003. Saber indígena e meio ambiente: experiências de aprendizagem comunitária. In: Leff, E. (Coord.). A complexidade ambiental. 3. ed. São Paulo: Cortez, pp. 282-322.

Pereira, F. C. 2004. A sustentabilidade da agricultura familiar no vale do Gurgueia – PI: construção de novas identidades socioprofissionais. Tese (Doutorado), Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 262 p.

Orlandi, E. P. 2000. Análise do discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 100 p.

Ribeiro, E. V. 2012. Reconhecimento ético e virtudes. São Paulo: Edições Loyola, 207 p.

Rigonato, V. D. 2014. O modo de vida das populações originárias do(s) cerrado(s) baianos. Élisée, 3(2): 62-80.

Sabourin, E. 2009. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a reciprocidade. Rio de Janeiro: Garamond, 336 p.

Santos, I. E. 2012. Manual de métodos e técnicas de pesquisa científica. 9. ed. Niteroi: Impetus, 384 p.

Santos, M. 2009. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed. 5. reimp. São Paulo: Edusp, 388 p.

SCOTT, J. C. 2002. Formas cotidianas da resistência camponesa. Raízes, 21(1): 10-31.

Sepúlveda, S.; Rodríguez, A.; Echeverri, R.; Portilla, M. 2003. El enfoque territorial de desarrollo rural. San José, Costa Rica: IICA, 180 p.

Silva, A. J. da. 2016. Agricultura familiar e a desterritorialização/desterritorialização/reterritorialização provocada pelo agronegócio no cerrado piauiense: hibridismo sociocultural marginal em Uruçuí. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 325 p.

Silva, A. J. da; Monteiro, M. do S. L.; Barbosa, E. L. 2015. Difusão do agronegócio no Brasil: estratégias governamentais. Informe Econômico, 17(34): 47-54.

______. 2016a. Nova dinâmica produtiva e velhas questões territoriais nos cerrados setentrionais do Brasil. Revista Espacios, 36(21): 14.

______. 2016b. Contrapontos entre o tradicional e o moderno no rural. Boletim de Geografia, 34(2): 81-97.

Silva, A. J. da; Monteiro, M. do S. L.; Silva, M. V. da. 2015. Contrapontos da consolidação do agronegócio no cerrado brasileiro. Sociedade e Território, 27(3): 95-114.

Tönnies, F. 1995. Comunidade e sociedade. In: Miranda, O. de. Para ler Ferdinand Tönnies. 1. ed. São Paulo: Edusp, pp. 231-352.

Wanderley, M. de N. B. 2003. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e continuidade. Estudos Sociedade e Agricultura, s/i(21): 42-61.

Wolf, E. R. 1976. Sociedades camponesas. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 150 p.

Woortmann, E. P. 2009. O saber camponês: práticas ecológicas tradicionais e inovações. In: Godoi, E. P. de; Menezes, M. A. de; Marin, R. A. (Orgs.). Diversidade do campesinato: expressões e categorias. v. 2 (estratégias de reprodução social). São Paulo: Unesp; Brasília: Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, pp. 119-129.

Downloads

Publicado

2017-07-29

Como Citar

SILVA, A. J. da; MONTEIRO, M. do S. L.; BARBOSA, E. L. A tradicionalidade do agricultor familiar do cerrado piauiense. Gaia Scientia, [S. l.], v. 11, n. 2, 2017. DOI: 10.22478/ufpb.1981-1268.2017v11n2.35016. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/gaia/article/view/35016. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

Ciências Ambientais

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)