Primeiros Poemas, de João Cabral, como se um livro fosse possível, ainda que mutante

Résumé

Em 1990, a publicação dos Primeiros poemas de João Cabral de Melo Neto estampou uma brochura constituída de três partes. Por ocasião da publicação da Obra Completa (1994), aquele livro foi ali deslocado para o “Apêndice” e somente com uma daquelas três partes originais, excluindo da autoria a parte homônima à composição “Trouxe ao sol à poesia”. Na reedição da produção poética do autor, com a indicação de Poesia completa (1997), não somente o poema foi preterido da obra, mas o livro como um todo, na integralidade de suas composições. Tais composições somente foram restituídas à escritura do poeta na reedição seguinte, agora sob a chancela de Poesia completa e prosa (2008). Cotejando as três edições e tomando como referência aquele poema que flutua na obra, alguma especulação será feita, a pretexto de conferir significação particular ao volume específico mediante o percurso poético do autor. À guisa de ilustração, será feita a análise daquele mesmo poema “Trouxe o sol à poesia”, depois de excluído, logo reincorporado à lavra autoral, sob o contraponto analítico do soneto de Gregório de Matos e Guerra, cujo primeiro verso é “Nasce o sol, e não dura mais que um dia”, que projeta a poesia cabralina retrospectivamente para além da modernidade, inscrevendo sua obra numa tradição mais remota.