A vulgata da tríade poética (lírico, épico e dramático) no ensino de roteiro para cinema e audiovisual
Palavras-chave:
Lírico, Épico, Dramático, Gêneros literários, RoteiResumo
Lírico. Épico. Dramático. O que são essas categorias? Por que são reiteradamente referidas, com frequência, no ensino de roteiro para cinema e audiovisual (AV)? E por que a autoria dessas mesmas categorias é, não raro, atribuída à obra Arte Poética (ou simplesmente Poética), de Aristóteles? Lírico, épico e dramático compõem a famosa tríade canônica, uma suposta matriz genérica da qual todos os gêneros literários emanam, ou da qual teriam se desenvolvido. Largamente aplicada ao estudo dos gêneros literários, a tríade canônica tem seu devido impacto nos estudos de cinema, notadamente na teoria e prática do roteiro contemporâneo. É sabido que, embora em constante renovação, o campo do cinema e AV conserva modelos e axiomas provenientes de trabalhos pioneiros muito antigos, como a Poética de Aristóteles ou A República de Platão, assim como de propostas e reflexões mais recentes, como as do formalismo russo. Este artigo pretende re-examinar a permanência dos “gêneros” lírico, épico e dramático no ensino do roteiro cinematográfico e AV, levando em conta parte da história dos gêneros literários e esforços predecessores de teorização, tanto no âmbito dos estudos literários, quanto no dos estudos de cinema e AV. Nesse sentido, pretendemos indagar sobre por que as categorias do lírico, do épico e do dramático são reiteradamente referidas no ensino de roteiro para cinema e AV, com sua “paternidade” frequentemente atribuída, por engano, à Poética de Aristóteles. Investigaremos também qual a origem de tais termos, bem como sua aplicabilidade no ensino contemporâneo de roteiro.
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