A blogosfera materna é branca: trabalho, feminismos, raça e classe na blogosfera materna brasileira
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1807-8214.2021v31n1.60140Resumen
Este artigo versa sobre a não neutralidade racial e de classe dos blogs maternos brasileiros na última década. Apresento a discussão a partir da identificação feita por mulheres negras da ausência na blogosfera materna de temas pertinentes às suas experiências de maternagem e às questões que as afligem. Este diagnóstico, que as motiva a criar blogs maternos e grupos de mulheres específicos para o debate da maternidade negra, visibiliza como a blogosfera materna brasileira, que não reivindica recorte racial e de classe, é marcada pela branquitude. Reforço o argumento através da apresentação de enunciados proferidos em blogs escritos por mulheres mães brancas acerca dos feminismos. O debate, que se centra no trabalho remunerado fora do lar geralmente visto como símbolo de libertação ou de opressão feminina, além de manter a mulher como principal cuidadora das crianças, evidencia o perfil das mulheres que participam da construção deste discurso e as teorias feministas que o embasam. Nesta análise, dialogo com a autora afro-americana bell hooks, a qual evidencia como certos discursos maternalistas refletem o viés de classe e raça das participantes e como questões relativas ao cotidiano e à prática de ser mãe das mulheres negras encontram-se ausentes de modelos de maternidade romantizados que invocam a maternidade como um dado da natureza feminina e, consequentemente, universal.