O estado de exceção como elemento essencial do conceito de estado-nação, o campo e os neomortos contemporâneos
DOI:
https://doi.org/10.18012/arf.v8i1.56090Palavras-chave:
Estado de exceção., Biopolítica, Poder médicoResumo
O presente artigo tem como marco teórico os estudos de Giorgio Agamben, partindo de sua análise do conceito clássico de Estado-nação, afigurando-se o campo como um novo elemento essencial desse, compreendendo-se o estado de exceção não como a clássica suspensão normativa temporária, mas sim como uma localização deslocante contida no espaço territorial, a qual deve ser entendida como técnica de governo. Essa técnica estaria presente contemporaneamente, mesmo nos estados chamados democráticos ainda que o estado de exceção não seja abertamente declarado. Analisa-se o direito sobre a vida e a morte daqueles que se encontram inseridos nesse espaço deslocalizado como questão central da biopolítica, na medida em que a ciência médica redefine o conceito de morte, a chamada morte cerebral, constatando-se que a vida e a morte possuem fronteiras móveis. Observa-se que no Brasil, a legislação se utiliza exclusivamente de critérios do Conselho Federal de Medicina (CFM) para o estabelecimento da morte cerebral, a qual fora utilizada como fundamento da procedência da ADPF nº 54. Com base em Michel Foucault refere-se às transformações sofridas pela instituição hospitalar, destacando o aumento do poder médico, bem como a crítica de Agamben ao autor porque ele não teria avançado em seus estudos para o campo de concentração, posto que fora nestes que ocorrera o ápice da biopolítica (tanatopolítica). Verifica-se que a fusão entre a medicina e a política é uma das características essenciais da biopolítica moderna, onde há uma troca de papéis em que o médico decide tanto quanto outrora decidia o soberano. Sugere-se, por fim, que não se pode perder de vista que o campo e o estado de exceção estão sempre virtualmente presentes e que o conhecimento científico pode, a qualquer tempo, ser utilizado pelo poder estatal, com os riscos inerentes às conveniências do governo.
Downloads
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O poder soberano e a vida nua – homo sacer. Lisboa: Editorial Presença, 1998.
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. São Paulo: Boitempo, 2004.
AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (Homo sacer III). São Paulo: Boitempo, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. NAÇÃO, ESTADO E ESTADO-NAÇÃO. Disponível em http://www.bresserpereira.org.br/papers/2008/08.21.Na%C3%A7%C3%A3o.Estado.Estado-Na%C3%A7%C3%A3o-Mar%C3%A7o18.pdf. Acesso em: 01 de março de 2017.
CASTRO, Edgardo. Introdução a Giogio Agamben: uma arqueologia da potência. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
CAVALCANTI, Francisco Ivo Dantas. Teoria do estado: direito constitucional I. Belo Horizonte: Livraria Del Rey, 1989.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. São Paulo: Saraiva, 2007.
FAYET JUNIOR, Ney; SOUZA, Draiton Gonzaga de. Da insubmersibilidade dos desafios éticos da ciência moderna em face do Estado Constitucional Democrático: a (questão da) Kastration de condenados por delitos sexuais graves. in Interesse Público – IP, Belo Horizonte, ano 17, n. 92, p. 37-58, jul./ago. 2015.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
MATOS, Saulo M. M. de. Teoria pura do direito e nazismo: uma análise a partir da crítica de Gustav Radbruch. In Direitos humanos e crítica teórica. COSTA, Paulo Sérgio Weyl A.; CULLETON, Alfredo; COLARES Virgínia (Organizadores). Porto Alegre: Entrementes, 2015.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, estado de exceção, política da morte. São Paulo: n-1 edições, 2018.
ROMAGUERA, Daniel Carneiro Leão; TEIXEIRA, João Paulo Allain; BRAGATO, Fernanda Frizzo. Por uma crítica descolonial da ideologia humanista dos direitos humanos. In Derecho y Cambio Social. Disponível em:
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5470223.pdf. Acesso em: 01 de março de 2017.
ROMAGUERA, Daniel Carneiro Leão; TEIXEIRA, João Paulo Allain. Para além do poder soberano: uma crítica à herança moderna e legitimação. In Direitos humanos e crítica teórica. COSTA, Paulo Sérgio Weyl A.; CULLETON, Alfredo; COLARES Virgínia (Organizadores). Porto Alegre: Entrementes, 2015.
STAMFORD DA SILVA, Artur. 10 lições sobre Luhmann. Petrópolis: Vozes, 2016.
STANCIOLI. Brunello Souza. Relação jurídica médico-paciente. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
STRECK, Lênio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan. Ciência política e teoria geral do estado. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004.
SCZIMINSKI, Terezinha de Fátima Juraczky; BAZZANELLA, Sandro Luiz. A SOBERANIA E A EXCEÇÃO NO PENSAMENTO DE GIORGIO AGAMBEN E CARL SCHMITT. In Revista Estação Científica. Juiz de Fora, nº 09, janeiro – junho / 2013.
STF – Supremo Tribunal Federal. ADPF nº 54. Voto Ministro Marco Aurélio Melo. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.pdf. Acesso em 01 de março de 2017.
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Política de Direito Autoral para os itens publicados pela Revista:
1.Esta revista é regida por uma Licença da Creative Commons aplicada a revistas eletrônicas. Esta licença pode ser lida no link a seguir: Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0).
2.Consonante a essa politica, a revista declara que os autores são os detentores do copyright de seus artigos sem restrição, e podem depositar o pós-print de seus artigos em qualquer repositório ou site.
Política de Direito de Uso dos Metadados para informações contidas nos itens do repositório
1. Qualquer pessoa e/ou empresa pode acessar os metadados dos itens publicados gratuitamente e a qulquer tempo.
2.Os metadados podem ser usados sem licença prévia em qualquer meio, mesmo comercialmente, desde que seja oferecido um link para o OAI Identifier ou para o artigo que ele desceve, sob os termos da licença CC BY aplicada à revista.
Os autores que têm seus trabalhos publicados concordam que com todas as declarações e normas da Revista e assumem inteira responsabilidade pelas informações prestadas e ideias veiculadas em seus artigos, em conformidade com a Política de Boas Práticas da Revista.