O tempo presente, a soleira e os silêncios: contribuições e desafios na proposição de um modelo de crítica literária benjaminiano

Autores

  • Maryson J.S. Borges

Palavras-chave:

Crítica, Presente, Quarup, Tempo, Filosofia

Resumo

Uma assimilação adequada do pensamento de Walter Benjamin passa, inequivocamente, pela consciência da posição referencial do tempo presente na construção e na interpretação de seus mais importantes conceitos e, sobretudo, métodos críticos. Neles, o presente é um tempo messiânico porque, ao privilegiar o tempo do observador, anacronicamente, renova o entendimento dos objetos, dos discursos, da realidade, redimindo-os numa temporalidade múltipla e em permanente atualização. Em contrapartida, porém, epistemologicamente, esta proeminência do presente instaura um impasse, pois, como é possível manter-se fiel a um pensamento que se propõe como expressão de uma linguagem e reflexão em permanente atualização? Noutras palavras, transfundir Benjamin para o tempo presente sem adequá-lo devidamente ao contexto em que ele será aplicado não é indiretamente sobrepor ao tempo privilegiado do observador o tempo dos conceitos e métodos do autor?Manter-se fiel ao pensamento de Benjamin significa, portanto, considerar a natureza paradoxal latente no aproveitamento deste legado filosófico; significa suplantar este impasse numa recepção deste pensamento que lhe faça justiça como método e como expressão. Uma reflexão sobre a viabilidade de um modelo de crítica que se mantenha fiel ao pensamento do autor e, simultaneamente, seja adequado às demandas de objetos situados em contextos históricos diversos é, pois, o que irá propor este ensaio. Seu ponto de partida será o diálogo de conceitos e métodos de Benjamin com a problematização do tempo e da história do Brasil apresentadas por Antonio Callado no romance Quarup. O ponto de chegada: a medida do desafio de ser fiel no presente à obra de Benjamin.

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Referências

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Publicado

03.04.2012

Edição

Seção

Artigos do Dossiê