Mística feminina – escrita e transgressão
Palavras-chave:
Mística Medieval, Mulheres, TransgressãoResumo
Objetiva-se abordar o pensamento de algumas mulheres no que diz respeito aos seus escritos que oscilam entre a filosofia, a espiritualidade e a transgressão. Assim, tem-se como horizonte o fato de essas mulheres serem almas femininas numa época em que não lhes cabia o dom de pregar, ensinar ou escrever, sobretudo o que pregaram, ensinaram e escreveram. Logo, suas vozes e suas escritas soam como uma espécie de transgressão, aliás, de uma tripla transgressão: uma transgressão de gênero (mesmo que não deva ter o peso do sentido moderno do termo); uma transgressão contra a ortodoxia da Igreja (quando criticam explicitamente ou veladamente alguns dos seus hábitos) e uma transgressão dos limites da relação entre o humano e o divino (quando a alma e Deus se tornam um só). Ora, se os escritos dessas mulheres nos espantam, não só pela vivência que eles refletem, mas também, como afirmam alguns estudiosos, pelo enraizamento de um fundo sólido de conhecimentos; o que dizer da reação de muitos dos seus contemporâneos: um assombro que alguns consideraram maravilhoso e outros, perigoso. No entanto, a história dessa escrita feminina não deve ser lida apenas como a história de uma transgressão, já que se pode extrair dos seus textos, também, a reescrita de uma paixão. Uma paixão que tem como horizonte o sagrado que, de diferentes formas e por diferentes expressões, acompanha a história da humanidade. Neste sentido, pode-se afirmar que a “escritura feminina” da Filosofia Medieval mostra-se, para além da história de uma transgressão, a história de uma paixão pelo divino.
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