EM BUSCA DA TRADIÇÃO PERDIDA
A UTOPIA DO PASSADO EM SOUMISSION, DE MICHEL HOUELLEBECQ
DOI:
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2024v26n1.69579Palavras-chave:
retrotopia, nostalgia, Michel Houellebecq, Soumission, patriarcadoResumo
O objetivo deste trabalho é analisar o romance distópico Soumission (2015), do escritor francês Michel Houellebecq, sob perspectiva política, considerando a trajetória do protagonista François, que testemunha uma profunda transformação da França – de laico a religioso – com a eleição de seu primeiro presidente muçulmano, num pleito imaginado em 2022. O artigo sustenta que o romance, que dialoga com a literatura distópica contemporânea, revela uma sensação de esgotamento diante do liberalismo secular e evidencia um sentimento de nostalgia quanto a valores ditos tradicionais, selecionados na longa trajetória da cultura da Europa ocidental, relacionados à religião e ao patriarcado, que ironicamente se coadunam com o projeto de poder representado no livro pelo governo mulçulmano, conforme a visão do narrador. Neste texto, interpretamos o romance à luz do conceito de retrotopia do sociólogo Zygmunt Bauman (2017), para quem existe, hoje em dia, um sentimento difuso de retorno ao passado como mecanismo de defesa frente a um mundo em constante transformação e conflito. O artigo é dividido em três segmentos: no primeiro, fazemos um breve contexto das tensões políticas da França atual; no segundo, fornecemos uma visão geral de obras de Houellebecq que dialogam com essas tensões; na parte final, analisamos o romance Soumission utilizando o conceito de retrotopia de Bauman.
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