Trajetórias de lésbicas e gays no ativismo: representatividades gendradas que impactam o bem-estar e a saúde mental
Resumen
Desde a fase inaugural do movimento LGBTQIA+, quando ainda era composto apenas pela militância homossexual, têm sido observadas que as diferentes trajetórias de ativistas lésbicas e gays são marcadas por tensões e divergências entre ambos. Com o intuito de compreender como esses dois sujeitos políticos entendem o modo pelo qual as suas representatividades e ocupações no movimento social repercutem em seu bem-estar e na sua saúde mental, o presente trabalho teve como escopo analisar qualitativamente as vivências pessoais e a trajetória na militância de ativistas lésbicas e gays. Para essa finalidade, foram entrevistados quatro homens gays e quatro mulheres lésbicas, de diferentes faixas etárias, conhecidos pelos seus percursos na militância. Através da análise de conteúdo, foram produzidas três categorias: “Sofrimentos relacionados à representatividade no movimento social; “O ativismo virtual e a personificação da militância” e “Estratégias de autocuidado”. Ao final, verificou-se que a maneira através da qual o gênero influencia a representatividade de lésbicas e gays no movimento acarreta em sofrimentos psíquicos distintos em ambos os grupos: gays parecem sofrer pelo ônus da projeção e do reconhecimento na representatividade; enquanto lésbicas sofrem pelo apagamento e não reconhecimento de seus trabalhos e lutas. Além disso, foi assinalado que a relação com a militância demanda estratégias de autocuidado, a fim de atenuar os efeitos da sobrecarga e dos percalços no cotidiano do ativismo.