A tradução shakespeariana como fonte inesgotável: conexões entre texto verbal e criação audiovisual no filme Macbeth: ambição e guerra, de Justin Kurzel
DOI :
https://doi.org/10.22478/ufpb.1516-1536.2022v24n1.62261Mots-clés :
adaptação fílmica, literatura comparada, Macbeth, tradução, William ShakespeareRésumé
A adaptação fílmica de uma das obras mais famosas de William Shakespeare, Macbeth, dirigida pelo australiano Justin Kurzel (2015), foi aclamada, sobretudo, por “retratar fielmente” o texto fonte. Contudo, elementos ambíguos surgem como desafios para o processo tradutório, posto que o responsável pela obra deverá necessariamente assumir um posicionamento deliberado quanto à sua construção imagética. Tal como se dá em toda tradução, a transição de um projeto elaborado em conformidade com os pressupostos do código linguístico para um código audiovisual implica um processo interpretativo similar àquele realizado pelo leitor de um texto literário. Embora questionada incessantemente na esfera acadêmica dos Estudos da Tradução, a exigência de uma suposta “fidelidade” da obra fílmica em relação ao texto fonte continua a ser o centro de algumas críticas populares. No estudo de caso ora analisado, a presença do diretor enquanto indivíduo que traduz a célebre tragédia para o cinema ganha contornos bem delimitados, rompendo a “neutralidade narrativa” aparente. Desse modo, o presente artigo tenciona mostrar como a leitura que Kurzel faz da peça shakespeariana – que associa a sede de poder do casal Macbeth à sua amargura diante da ausência de filhos – chega à tela ao apresentar soluções para aspectos que permanecem ambíguos no texto, enfatizando, assim, a interpretação como elemento fundamental do processo de tradução da “Peça Escocesa” para o formato fílmico.
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